Os Correios Aéreos Militar, Naval e Nacional

Ambas as aviações militares brasileiras, na década de 30, criaram correios aéreos. Lembramos que em 1919 a Aviação Naval havia realizado o primeiro vôo aeropostal da Marinha, inaugurando-se o Correio Aéreo da Esquadra. No entanto, foi a Aviação Militar a pioneira no transporte de malas postais.

No memorável dia de 12 de junho de 1931, o Curtiss Fledgling ‘K263’ da Aviação Militar, pilotado pelos Ten. Casimiro Montenegro e Ten. Nelson Freire Lavenère-Wanderley, tranportaram a primeira mala postal entre as cidades de Rio de Janeiro e São Paulo. Foi um vôo pioneiro, onde se enfrentaram dificuldades de toda sorte: um forte vento de frente reduziu a velocidade para menos de 80 Km/h, aumentando a duração da viagem em 2 h. Ao chegarem a São Paulo, 5h 30min após terem decolado do Campo dos Afonsos, já era noite e, com as luzes da cidade, foi-lhes impossível localizar o Campo de Marte. Aterrissaram então na pista do Jockey Club da Moóca e, pulando o muro do clube, tomaram um táxi até a estação central dos Correios, entregando lá a mala postal. O cumprimento do dever demonstrado por estes pioneiros, acima de todas as dificuldades, norteou as ativid

Começou-se então a estender as linhas para outras regiões do país. Após alguns percalços, a linha Rio de Janeiro-Minas Gerais passou a funcionar regularmente a partir de 30 de novembro de 1931. Em apenas seis meses de vôo, as rotas já cobriam 1.731 Km, e haviam sido transportados 340 Kg de correspondência e 37 pilotos com experiência em vôos de longa distância.

No ano de 1932, apesar do lapso de quatro meses devido à Revolução Constitucionalista, o CAM estendeu suas linhas para 3.630 Km; inauguraram-se as linhas para o Mato Grosso e Paraná, utilizando avões WACO CSO, com maior autonomia do que os Fledgling.

Em 1933 o CAM voltou sua atenção para a região norte do país, com a linha até Fortaleza. A rota seguia ao longo do rio São Francisco e beneficiava enormemente as populações ribeirinhas, usando aviões WACO CJC Cabine.

WACO CJC Cabine C-58 do Correio Aéreo Militar.

No ano de 1934 abriram-se as linhas entre Porto Alegre e Santa Maria, no Rio Grande do Sul; em agosto, uma linha circular foi criada em Mato Grosso, atendendo as guarnições do Exército lá localizadas, numa extensão de 2.700 Km.

Nesse mesmo ano, foi inaugurado pela Marinha de Guerra o Correio Aéreo Naval – CAN, atendendo linhas ao longo do litoral sul-brasileiro, entre as cidades de Rio Grande e Rio de Janeiro. Eram utilizados hidroaviões WACO CSO e WACO CPF F-5, e aviões WACO CPF F-5 e WACO CJC Cabine.

Em 1935, o CAM inaugurou outras linhas, chegando à Amazônia; 18.365 Kg de correspondência foram transportados, numa rede cobrindo 10.280 Km. O processo de interiorização das linhas servia a dois propósitos: afirmar a soberania sobre o Território Nacional e integrar a população.

As linhas internacionais foram inauguradas pelo CAM em 1936, com um vôo a 23 de janeiro até Assunção (Paraguai); neste mesmo ano, são transportados 23.907 Kg. Nos anos de 1937 e 1939, iniciam-se as rotas adentrando a Amazônia, pelo norte e pelo sul respectivamente. Nesse último ano, o CAM incorpora aviões WACO EGC-7 Cabine – ao final da década de 30, as linhas do CAM estendiam-se por 19.709 Km e mais de 65.000 Kg de correspondência haviam sido transportados.

Em 1940, a Marinha adquiriu quatro Beechcraft D-17A para serem utilizados pelo CAN em rotas ligando o Rio de Janeiro até Belém; porém tais rotas não funcionaram regularmente.

A criação do Ministério da Aeronáutica em janeiro de 1941 trouxe a fusão dos dois serviços de correio aéreo; no dia 20 de fevereiro, era criado o Correio Aéreo Nacional – CAN. A época não era muito propícia, devido à guerra que grassava em outros continentes – porém ao final do ano foram recebidos seis Beechcraft D-17A, designados de C-43. No fim de 1941, o CAN operava 14 linhas e mais de 70 toneladas de correspondência haviam sido transportados.

No dia 4 de abril de 1943, a linha do Tocantins foi estendida até Caiena, capital da Guiana Francesa, com escalas em Macapá e Oiapoque. Em 19 de maio de 1945, foi criada a linha Rio de Janeiro-Santa Cruz de la Sierra (Bolívia), utilizando aviões bimotores Beechcraft C-45.

C-47 2009 do 1º Esquadrão de Transporte Aéreo.

Aviões Douglas C-47 foram recebidos pela FAB em 1944 e, após o fim da IIª Guerra Mundial, passaram a ser empregados nas rotas do CAN, permitindo uma expansão ainda maior das linhas. Assim, em 5 de março de 1946 inaugurou-se a rota até La Paz (Bolívia), sobrevoando a Cordilheira dos Andes.

Em 1947, criou-se uma linha até o então Território do Acre, no extremo oeste do Brasil, a qual trouxe benefícios incontáveis às populações situadas ao longo da linha; elas cunharam a expressão

“Correio Aéreo Nacional: Glória pacífica da Força Aérea Brasileira.”

o que demonstra a importância das atividades do CAN para a sociedade brasileira.

Em 1951, a linha até Lima (Perú) foi ativada e, a 5 de junho daquele ano, foi criado o Comando de Transporte Aéreo, o qual passou a dirigir as operações do CAN. No ano seguinte, foram criados postos de apoio ao longo das principais linhas do CAN, bem como deu-se início à operação da linha do Araguaia, apoiando as atividades do Serviço de Proteção ao Índio.

CA-10 6509 “Catalina” no seu elemento na Amazônia (via A. Camazano A.)

No ano de 1956 passou a funcionar em caráter regular a linha até Montevidéu (Uruguai) e, em 1958, as linhas para Quito (Equador) e para os Estados Unidos da América. Também em 1958 o CAN passou a operar aviões Catalina (foto à direita), nas linhas para a Amazônia, ao longo dos rios Solimões, Javari, Negro, Purus e Juruá; esses aviões, veteranos das missões de patrulha anti-submarino da FAB na IIª Guerra, haviam sido modificados para missões de transporte e receberam a designação de C-10 na FAB. Com a modificação, eles passaram a atender com mais eficiência àquelas linhas, principalmente pela sua capacidade anfíbia.

Em apoio às tropas brasileiras integrantes da Força de Emergência das Nações Unidas, sediada na Faixa de Gaza (fronteira entre Egito e Israel), o CAN estabeleceu uma linha até lá. As tripulações do 6º GAV operaram a linha utilizando aviões B-17 até 1960, quando foram substituídos por aviões Douglas C-54G. Nesse mesmo ano, o CAN criou uma linha até Santiago do Chile, com escala em Buenos Aires (Argentina), utilizando os C-54.

C-54 2400, com as bandeiras na fuselagem, indicando os países visitados em suas missões de transporte (foto via A. Camazano A.)

No dia 1º de setembro de 1971, foi criado o Centro do Correio Aéreo Nacional – CECAN, a fim de coordenar as atividades do SISCAN (Sistema do CAN) e de transporte logístico no âmbito do Ministério da Aeronáutica. Para realizar suas atividades, o CECAN conta com o concurso das unidades subordinadas à V Força Aérea e dos Esquadrões de Transporte Aéreo, subordinados à cada Comando Aéreo Regional.

Desde 1995 o CAN tem coordenado suas atividades de transporte juntamente com a Marinha do Brasil. Até 31 de agosto de 1996, quase 750.000Kg de carga foram transportados por aeronaves a serviço do CAN.

Bibliografia:

  1. “História Geral da Aeronáutica Brasileira”, V. 2, Instituto Histórico-Cultural da Aeronáutica, Rio de Janeiro, 1991.
  2. “História Geral da Aeronáutica Brasileira”, V. 3, Instituto Histórico-Cultural da Aeronáutica, Rio de Janeiro, 1991.
  3. N.F. Lavenère-Wanderley, “História da Força Aérea Brasileira”, 2ª Ed.
  4. J.E. Magalhães Motta, “Força Aérea Brasileira 1941-1961 – Como eu a vi…”, INCAER, Rio de Janeiro, 1992.
  5. NOTAER 49/96, 18/09/96.