Curtiss P-36A

por APARECIDO CAMAZANO ALAMINO

Em meados da década de 30, o Corpo Aéreo do Exército dos Estados Unidos – USAAC solicitou a realização de uma concorrência nacional com o objetivo de efetuar a substituição dos veteranos caças Boeing P-26 “Peashooter” em suas unidades de combate.

Participaram do evento inúmeros concorrentes, porém os projetos da Indústria Seversky, com o seu Seversky P-35, e o da Curtiss-Wright Corporation, denominado de Curtiss P-36, foram escolhidos como os finalistas. Após as rigorosas avaliações realizadas pela Aviação do Exército Americano, o Curtiss P-36 foi a aeronave escolhida.

Em julho de 1937, as primeiras unidades de caça do USAAC começaram a operar o novo caça, que também despertou o interesse de várias nações como a França, que iniciou a sua montagem sob licença, e a Inglaterra.

O enorme desenvolvimento dos caças no início da Segunda Guerra Mundial, praticamente ofuscou o P-36, que já saiu praticamente ultrapassado. O seu grande mérito foi possibilitar o desenvolvimento de outro caça da Curtiss que teve um melhor destaque: o Curtiss P-40.

Não obstante, a sua versão de exportação, denominada Curtiss Hawk 75A, dos quais mais de 750 exemplares foram vendidos, foi utilizada com sucesso pelo “Armée de l’Air” (Força Aérea Francesa) nos desesperados combates em maio de 1940. Comparado com o Messerschmitt ME-109E, seu principal oponente à época, o Hawk era mais manobrável, porém era muito mais lento do que aquele. Apesar de todas as dificuldades, os pilotos de cinco grupos de caça – GC I/4, GC II/4, GC I/5, GC II/5 e GC III/2 – foram responsáveis por derrubar 311 aeronaves da “Luftwaffe”. Os nomes do Cap. Jean Accart (12 vitórias), Lt. Marin la Meslée (16 vitórias) e Sgt.-Chef Morel (10 vitórias) são testemunho da luta encarniçada travada com os Hawk 75A.

Após a queda da França, vários Hawk que haviam sido encomendados pelos franceses foram desviados para a Grã-Bretanha; batizado como Mohawk IV, equipou três esquadrões na Índia e Birmânia, de 1942 a 1944 (um esquadrão da Força Aérea Sul-Africana utilizou-os brevemente no Norte da África em 1942).

A “Luftwaffe” capturou a grande maioria dos Hawk 75A remanescentes após o Armistício de 1940, e os utilizou na proteção aérea e como aviões de treinamento. Alguns outros exemplares foram utilizados pelos grupos GC II/5 e GC I/4 da Força Aérea Francesa de Vichy (colaboracionista) a partir das possessões francesas no Norte da África.

UTILIZAÇÃO MUNDIAL DO CURTISS P-36

Apesar dos inconvenientes da Segunda Guerra Mundial, o Curtiss P-36 foi empregado por vários países durante a guerra, incluindo África do Sul, Alemanha, Brasil, Estados Unidos, Finlândia, França, Grã-Bretanha, Holanda, Índia, Noruega Livre e Portugal.

O CURTISS P-36 NA FAB

Com o incremento da cooperação americana junto à Força Aérea Brasileira, que começou em princípios dos anos 40, vários tipos de aeronaves foram cedidos ao Brasil pelo sistema “Lend-Lease” (Empréstimo e Arrendamento), dentre os quais se incluíam dez caças Curtiss-Wright P-36A.

Esse aviões, provenientes dos estoques da 6ª Força Aérea Americana, foram entregues em 08 de março de 1942 na Base Aérea de Fortaleza, onde foram destinados ao Agrupamento de Aviões de Adaptação, recém criado naquela Base e dotado com diversos tipos de aeronaves de procedência americana.

Em 11 de novembro de 1942, os P-36 foram destinados ao 6º Regimento de Aviação – 6º RAv, localizado em Recife, onde permaneceram até 14 de abril de 1943, ocasião em que foram transferidos para o Grupo Monoposto-Monomotor – GMM, sediado em Natal – RN, que já operava outras aeronaves, de diversos tipos, com a finalidade de adaptar os pilotos militares brasileiros, já com vistas à participação do Brasil no esforço de guerra.

No início de sua operação na FAB, os P-36A foram matriculados como 40, 43, 44, 45, 48, 50, 52 e 53, sem, contudo, haver uma correlação com as matrículas FAB-01 e FAB-10, utilizadas a partir de 1943. Duas aeronaves não foram identificadas nesta sistemática (dados extraídos de cadernetas de voo da época).

Durante a sua utilização em missões de treinamento e de patrulha no Nordeste Brasileiro, cinco acidentes fatais ocorreram com os P-36A, o que acarretou ao avião uma falta de tradição e até de credibilidade no ceio da aviação de combate da FAB entre os anos de 1942 a 1943.

Os cinco aviões remanescentes foram transferidos para a Escola de Especialistas de Aeronáutica – EEAR, para serem utilizados na instrução no solo de seus alunos, pela Instrução número 1641, de 23 de dezembro de 1943. O Boletim da Diretoria de Material da Aeronáutica – DIRMA, de 05 de setembro de 1944, publica oficialmente a transferência dessas aeronaves para a referida Escola.

No final dos anos 40, os poucos aviões restantes, já transformados em sucata, foram vendidos para aproveitamento da matéria-prima, encerrando, assim, uma curta fase de operação deste raro caça que foi empregado pela FAB e é tão pouco conhecido por todos.

OS PADRÕES DE PINTURA DOS CURTISS P-36A DA FAB

Os P-36A foram recebidos com as cores no padrão verde-oliva, utilizado pela Aviação do Exército Americano, nas partes superiores e laterais da fuselagem. A estrela da FAB estava pintada nas asas, sendo que a carenagem do motor era pintada em vermelho e as partes inferiores da aeronave estavam pintadas em cinza médio. A matrícula FAB-01 a 10 estava colocada no estabilizador vertical, na cor amarela e somente o número (no caso 1 a 10) era pintado, na cor preta, na carenagem do motor em ambos os lados.

Em 1943, a carenagem vermelha do motor também foi pintada de verde-oliva, no mesmo padrão de toda aeronave, ocasião que foram acrescentadas as cores verde-amarelo no leme direcional da aeronave.

O único P-36A em uso pelo EMI foi pintado nas cores padrão de aeronaves de treinamento, com a fuselagem em alumínio e as asas e estabilizadores em laranja.

UNIDADE PERÍODO OBSERVAÇÃO
Agr. Av. Adapt. 1942 Sede em Fortaleza – CE
6º RAv 1942 a 1943 Sede em Recife – PE
GMM 1943 Sede em Natal – RN
EEAR 1943 a 1946 Instrução no solo dos alunos
FONTE: DIRETORIA DE MATERIAL AERONÁUTICO

CARACTERÍSTICAS TÉCNICAS (Curtiss P-36A)

  • Motor: Um motor radial de 14 cilindros, Pratt&Whitney R-1830-13 Twin Wasp de 1.050 HP, em 2 estrelas de 7 cilindros cada
  • Envergadura: 11,35 m
  • Comprimento: 8,78 m
  • Altura: 2,74 m
  • Superfície alar: 21,92 m2
  • Peso: 1.935 kg (vazio); 2.456 kg (máximo)
  • Velocidade: 471,53 km/h (máxima)
  • Razão de ascensão: 812,8 m/min
  • Teto de serviço: 9.601 m
  • Alcance: 1.271 km (máximo)
  • Armamento: Duas metralhadoras Browning M2 de .50 pol no capô do motor e duas Browning M2 de .30 pol em cada asa

Perfis:

Curtiss P-36A FAB 10, Agrupamento de Aviões de Adaptação, Base Aérea de Fortaleza, 1942.
Curtiss P-36A FAB 02, 1943.
Curtiss P-36A FAB 04.
Curtiss P-36A FAB 06, Esquadrão Misto de Instrução, 1943.

Bibliografia:

  1. W. Green, G. Swanborough, “Flying Colours”, Salamander, Londres, 1990.
  2. B. Gunston, “The Encyclopedia of the World’s Combat Aircraft”, Salamander, Londres, 1976.
  3. R. Jackson, “The Forgotten Aces – The Story of the Unsung Heroes of World War II”, Sphere, Londres, 1989.
  4. C. Lorch, “A Caça Brasileira – nascida em combate”, Action Editora, Rio de Janeiro, 1993.
  5. F.C. Pereira Netto, “Aviação Militar Brasileira 1916-1984”, Editora Revista de Aeronáutica, Rio de Janeiro, 1984.

Para conhecer mais sobre a história do P-36 na FAB, adquira o livro “Curtiss P-40 no Brasil”, escrito em português e em inglês, de autoria de Leandro Casella e Rudnei Dias da Cunha, onde você encontrará um capítulo dedicado ao P-36.

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