O Dassault Mirage 2000 foi desenvolvido a partir de 1972, e oferecido ao governo francês como alternativa ao projeto “Avion de Combat Futur” – ACF, uma aeronave de asa de geometria variável cujo custo de desenvolvimento levou ao seu cancelamento, em 1975.
Usando o motor turbofan SNECMA M53 desenvolvido para o ACF, o Mirage 2000 retomou a asa em delta do Mirage III (a qual havia sido abandonada no Mirage F1), equipando-a com slats em todo o bordo do ataque, os quais são atuados automaticamente através do “software” de controle de vôo. A asa em delta apresenta algumas vantagens, como melhores características aerodinâmicas em vôo a alta velocidade, facilidade de construção, menor assinatura radar e boa capacidade de armazenamento de combustível; por outro lado, exige uma velocidade mais alta de aterrissagem, distância maior de decolagem e aterrissagem e baixa manobrabilidade a baixa altura. Para remediar essas deficiências, a Dassault incorporou o conceito de instabilidade dinâmica no Mirage 2000, movendo o centro de pressão para trás do centro de gravidade da aeronave. Com isso, melhorou-se a manobrabilidade e reduziu-se a distância de decolagem; já a distância de aterrissagem foi reduzida utilizando-se um sistema de freios a base de fibra de carbono.
A aeronave é dotada de um sistema “fly-by-wire” redundante e o piloto a controla usando o sistema “hands-on-throttle-and-stick” (HOTAS), com o qual a maioria dos sistemas da aeronave são ativados através de botões instalados no manche e na manete de potência do motor.
O primeiro protótipo voou em 10 de março de 1978, e o primeiro exemplar de produção voou em 20 de novembro de 1982. Os primeiros Mirage 2000C, de interceptação, foram declarados operacionais em 1984.
Um total de 124 Mirage 2000C foram produzidos. Os primeiros 37 exemplares eram equipados com o radar Thomson-CSF RDM (“Radar Doppler Multifunction”), e foram construídos nos padrões S1 a S3 (este último permite o lançamento de mísseis ar-ar guiados por radar Matra Super R-530F). Os exemplares subseqüentes, números de construção de 37 a 124, foram produzidos nos padrões S4 a S5 e receberam o radar Thomson-CSF RDI (“Radar Doppler Impulse”), a partir de 1987, o qual oferece uma melhor capacidade “look-down”. Com o radar RDI, introduziu-se também os mísseis ar-ar guiados por radar Matra Super R-530D, de maior alcance.
O armamento utilizado para combate ar-ar é composto de um par de canhões DEFA 554 de 30mm (com 125 cartuchos cada), dois mísseis ar-ar com guiagem infravermelho Matra Magic 2, além de dois mísseis Super R-530F/D. Em missões de ataque ao solo, a aeronave pode lançar bombas “burras” e guiadas a laser, e foguetes não-guiados; a designação laser pode ser feita através de um “pod” ou por outra aeronave.
Os Mirage 2000C empregam um pacote de contra-medidas eletrônicas (CME) e de autodefesa composto pelo sistema de aviso de iluminação por radar (RWR) Thales Serval (com antenas nas pontas das asas e na parte traseira no topo da deriva), pelo sistema CME Dassault Sabre (com uma antena na base da deriva e outra à frente da deriva, no topo), e um dispensador de “chaff/flare” Matra Spirale, instalado na raiz de cada asa, atrás.
A partir de 1990, foi desenvolvido a versão Mirage 2000-5. Em 1993, a fim de promover essa variante no mercado internacional, a Força Aérea Francesa converteu 37 Mirage 2000C-S4 e Mirage 2000C-S5 para a versão Mirage 2000-5F, a qual incorpora o radar Thomson-CSF RDY (“radar Doppler multicible”, capaz de engajar quatro alvos simultâneos), porém mantendo a mesma suíte de contra-medidas eletrônicas e de auto-defesa da versão C. Com o radar RDY, os Mirage 2000-5F passaram a empregar os mísseis de guiagem radar autônoma Matra MICA (“Missile de Interception, de Combat et de Autoprotection”).
Com a entrada em serviço do radar RDY, os radares RDI previamente instalados nas aeronaves convertidas para a versão -5F foram instalados nos Mirage 2000C equipados com o radar RDM.
Uma versão biplace de treinamento foi produzida na forma do Mirage 2000B, num total de 30 exemplares (números de construção 501 a 530), equipados em sua maioria com o radar RDM. O Mirage 2000B não é equipado com canhões, mas pode lançar os mesmos mísseis da versão monoplace. A partir do Mirage 2000B, foram desenvolvidos os Mirage 2000N de ataque nuclear (lançando o míssil cruzeiro ASMP, “Air-Sol Moyenne Portée”), e o Mirage 2000D, de ataque convencional.
No Brasil
Em 2005, com o cancelamento do projeto de seleção de um novo caça para a FAB, denominado “Projeto F-XBR”, e com a iminente desativação dos Dassault Mirage IIIE/DBR (a qual ocorreu em 31 de dezembro daquele ano), o Governo Brasileiro optou por adquirir dez aeronaves Mirage 2000C e duas aeronaves Mirage 2000B, da Força Aérea Francesa, além do treinamento de pilotos e mecânicos, peças de reposição e armamentos ar-ar, a um custo fixo de 80 milhões de euros (de acordo com o Decreto nº 5.625, de 22 de dezembro de 2005).
O referido decreto previa a entrega das aeronaves em lotes, sendo o primeiro composto por três Mirage 2000C e um Mirage 2000B. As primeiras aeronaves foram entregues à FAB em 2006, para emprego pelo 1º Grupo de Defesa Aérea, sendo denominadas F-2000C e F-2000B, respectivamente.
Em 2013, com o término do contrato de manutenção, os F-2000 foram retirados do serviço ativo na FAB.
CARACTERÍSTICAS TÉCNICAS (Dassault Mirage 2000C)
- Motor: um turbofan SNECMA M53-5 de 54,0kN de potência (86,3kN de potência com pós-combustão)
- Envergadura: 9,13 m
- Comprimento: 14,36 m
- Altura: 5,20 m
- Superfície alar: 41,00 m2
- Peso: 7.500 kg (vazio); 17.000 kg (máximo)
- Velocidade: 2.340 km/h (máxima)
- Teto de serviço: 18.000 m
- Alcance: 1.480 km
- Armamento: dois canhões DEFA 554 de 30mm com 125 cartuchos cada; dois mísseis ar-ar de médio alcance (20-25 milhas náuticas), com guiagem radar, semi-ativos, Matra Super R-530D instalados nos pilones internos; dois mísseis ar-ar de curto alcance (6-8 milhas náuticas), com guiagem infravermelho, Matra Magic 2, nos pilones externos. Capacidade secundária de ataque ao solo: lançamento de bombas “burras” e guiadas a laser, e foguetes não-guiados; designação laser pode ser feita através de um “pod” ou por outra aeronave.
Perfis
Bibliografia:
- J. Flores Jr., “Aeronaves Militares Brasileiras – 1916 – 2015”, Action Editora, Rio de Janeiro, 2015.