Lockheed C-130 Hercules

C-130H 2473 (foto Rudnei Dias da Cunha).

O Lockheed C-130 Hércules é um dos mais famosos aviões construídos até hoje. Aeronave de transporte tático, foi desenvolvido no início da década de 1950, e seu projeto incorporava alguns dos ensinamentos aprendidos pelos aliados ocidentais quando da Ponte Aérea de Berlim (1948). Um desses ensinamentos era a necessidade de se carregar e descarregar a aeronave de maneira rápida; isso fez com que os projetistas da Lockheed optassem por uma aeronave de asa alta; trem de pouso com pneus de baixa pressão, permitindo o uso em pistas semipreparadas e com pequena distância da aeronave ao solo; e uma porta de carga situada na porção traseira da fuselage, parte da qual se transforma em uma rampa, facilitando a carga e descarga de material da aeronave.

O primeiro voo do protótipo, YC-130A, foi realizado em 23 de agosto de 1954. Essa aeronave, bem como alguns dos primeiros C-130A de série, não dispunham do característico nariz que abriga o radar. Nesses mais de 50 anos de operação do Hércules, foram desenvolvidas mais de 85 variantes, utilizadas pelos quatro cantos do planeta.

Os Hércules entraram em serviço na Força Aérea Brasileira a partir de 1964, quando os três primeiros C-130E chegaram à Base Aérea do Galeão. Em 1965, os primeiros cinco C-130E passaram a operar com o 1º/1º Grupo de Transporte, e em 1968 outras três aeronaves viriam juntar-se à frota; naquele ano, os C-130E da FAB completaram 10.000 horas de voo, em sua totalidade buscando suprimentos no exterior.

SC-130E 2460 (via A. Camazano A.)

Em 1969, foram recebidos três SC-130E, a fim de realizar operações de busca-e-salvamento (SAR), aerofotogrametria e reconhecimento fotográfico. Essas aeronaves distinguiam-se externamente das demais já operadas pela FAB por apresentarem uma janela de observação na porção dianteira da fuselagem, bem como aberturas no piso para a acomodação das câmaras fotográficas. Os SC-130E foram inicialmente entregues ao 1º/6º Grupo de Aviação, sediado na Base Aérea do Recife o qual os operou até 1988.

KC-130H 2462 (foto Rudnei Dias da Cunha).

Em 1975 e 1976, foram recebidos três C-130H e dois KC-130H (equipados para reabastecimento em voo, REVO). A versão H distingue-se da anterior por utilizar motores mais potentes, além de modificações estruturais nas asas. Essas aeronaves foram inicialmente utilizadas pelo 2º/1º Grupo de Transporte de Tropa, sediado na Base Aérea dos Afonsos, em substituição aos C-115 Búfalo. Além das missões de transporte de suprimentos, os C-130H passaram também a adestrar regularmente com as tropas paraquedistas do Exército Brasileiro. A entrada em serviço dos KC-130H deu-se simultaneamente com a entrada em serviço na FAB dos seus primeiros caças dotados de sondas REVO, os Northrop F-5E Tiger II, e em muito contribuiu para aumentar a capacidade operacional da FAB.

Em 1983, uma importante missão passou a ser realizada: os voos de apoio ao Programa Antártico Brasileiro. No dia 23 de agosto realizou-se o primeiro pouso de um C-130 brasileiro na Antártica, o que vem se repetindo a cada ano desde então.

Entre 1984 e 1986, todos os C-130 da FAB sofreram um processo de modernização, realizado pelo Centro de Manutenção da VARIG, em Porto Alegre. Além de melhorias no radar e aviônicos, houve uma redução no peso básico de 500kg, aumentando assim a capacidade de carga.

Em 1987, chegaram outros três C-130H, a fim de recompor as perdas operacionais sofridas até então. Em 1988, o 1º/6º GAV transferiu seus SC-130E para o 1º/1º GT, o qual assumiu a missão SAR.

Em 2001, foram recebidos os primeiros de dez aeronaves C-130H, adquiridas da Aeronautica Militari Italiana – AMI.

Em 2003, deu-se início ao processo de modernização de dezoito aeronaves, elevando-as ao padrão C-130M. Além da instaçaõ de aviônica e instrumentos digitais na cabine de pilotagem (“glass cockpit”), foram intalados equipamentos de auto-defesa (“chaff/flare”), aumentando ainda mais a sua capacidade operacional.

Com a entrada em serviço dos Embraer KC-390, a FAB iniciou o processo de desativação dos seus C-130. Em 2016, a FAB desativou nove exemplares, restando doze aeronaves em operação. Em 2022, nove delas permaneciam na frota, sendo determinada a sua retirada de serviço à medida que esgotassem as horas de voo antes de ser necessária realizar inspeção da aeronave. Esse processo culminou com a realização do último voo de um Hércules na FAB, realizado pelo KC-130M FAB 2462, no dia 29 de fevereiro de 2024, encerrando assim quase 60 anos de operação na FAB.

C-130 2451 (foto Rudnei Dias da Cunha).
C-130H 2466 (foto Rudnei Dias da Cunha).
C-130H 2463 (foto Rudnei Dias da Cunha).
Frota de C-130 Hércules na FAB. (Fonte: Boletim
RADAR nº15; SCRAMBLE Database; Aeronaves Militares Brasileiras – 1916 – 2015; DCA 400-83; DCA 400-87).
TIPO MATRÍCULA C/N DATA RECEBIMENTO OBSERVAÇÕES
C-130E 2450 382-4091 31/08/1964 W/O Recife-PE, 21/12/1969.
C-130E 2451 382-4092 31/08/1964 Elevada ao padrão C-130E Low. Desativada em 2015.
C-130E 2452 382-4093 05/12/1964 W/O Santa Maria-RS, 26/10/1965.
C-130E 2453 382-4113 19/12/1965 Elevada ao padrão C-130E Low. Elevada ao padrão C-130M. Desativada em 2016. Transferido para o acervo do MUSAL.
C-130E 2454 382-4114 19/12/1965 1º C-130 camuflado (05/1979). Acidentada em 1994. Elevada ao padrão C-130E Low. Transformada em simulador por volta 2005.
C-130E 2455 382-4202 10/05/1967 Elevada ao padrão C-130E Low. W/O Niteroi-RJ, 27/09/2001.
C-130E 2456 382-4287 05/12/1968 1º C-130 pintado em branco e cinza (01/1971). Elevada ao padrão C-130E Low. Desativada em 2015.
C-130E 2457 382-4290 05/12/1968 W/O Santa Maria-RS, 24/06/85.
SC-130E 2458 382-4291 21/01/1969 Desativada em 2015.
SC-130E 2459 382-4292 21/01/1969 Desativada em 2015.
SC-130E 2460 382-4293 21/01/1969 W/O Rio Preto-BA, 14/10/94.
KC-130H 2461 382C-4625 19/01/1976 Elevada ao padrão KC-130M. Desativada em julho de 2022.
KC-130H 2462 382C-4636 19/01/1976 Elevada ao padrão KC-130M; realizou o último voo de um Hércules na FAB. Desativada em fevereiro de 2024.
C-130H 2463 382C-4570 02/04/1975 1º C-130 da FAB a pousar na Antártida,
23/08/1983. Elevada ao padrão C-130M. Desativada em 2015.
C-130H 2464 382C-4602 10/07/1975 Elevada ao padrão C-130M. Desativada em 2015.
C-130H 2465 382C-4630 19/01/1976 Batizado como “Antártida Express II” (06/1987), aeronave que mais operou na Antártida. Elevada ao padrão C-130M. Desativada em 2015.
C-130H 2466 382C-4990 20/02/1987 Elevada ao padrão C-130M. Desativada em 2015.
C-130H 2467 382C-4991 26/02/1987 Elevada ao padrão C-130M. Desativada em julho de 2021.
C-130H 2468 382C-4998 06/03/1887 W/O Fernando de Noronha, 14/12/1987.
C-130H 2470 382C-4441 29/07/2001 ex AMI MM61988, cor cinza. Elevada ao padrão C-130M. Desativada em 2016.
C-130H 2471 382C-4446 29/07/2001 ex AMI MM61990, camuflagem FAB. Elevada ao padrão C-130M. Desativada em março de 2022.
C-130H 2472 382C-4452 25/01/2001 ex AMI MM61994, camuflagem FAB. Elevada ao padrão C-130M. Desativada em janeiro de 2024.
C-130H 2473 382C-4451 2001 ex AMI MM61993, cor cinza. Elevada ao padrão C-130M. Desativada em dezembro de 2023.
C-130H 2474 382C-4494 11/11/2001 ex AMI MM61998. Elevada ao padrão C-130M (1ª aeronave modernizada, entregue em 2005); camuflagem FAB moderna verde e cinza. Disponibilizada para alienação em 2021.
C-130H 2475 382C-4491 17/11/2001 ex AMI MM61995, camuflagem OTAN. Elevada ao padrão C-130M. Desativada em julho de 2021.
C-130H 2476 382C-4493 09/05/2002 ex AMI MM61997, camuflagem OTAN. Elevada ao padrão C-130M; último C-130M operacional. Desativada em fevereiro de 2024.
C-130H 2477 382C-4495 28/06/2002 ex AMI MM61999, camuflagem OTAN. Elevada ao padrão C-130M. Desativada em junho de 2022.
C-130H 2478 382C-4443 31/10/2002 ex AMI MM61989, cor cinza. Desativada em 2015.
C-130H 2479 382C-4449 11/12/2002 ex AMI MM61992, cor cinza. Elevada ao padrão C-130M. Disponibilizada para alienação em 2021.

CARACTERÍSTICAS TÉCNICAS (Lockheed C-130H Hercules)

  • Motor: 4 turboélices Allison T56-A-15 de 4.508 shp de empuxo
  • Envergadura: 40,41 m
  • Comprimento: 29,81 m
  • Altura: 11,68 m
  • Superfície alar: 162,12 m2
  • Peso: 34.827 kg (vazio); 79.379 kg (máximo)
  • Velocidade: 621 km/h (máxima)
  • Razão de ascensão: 762 m/min
  • Teto de serviço: 13.075 m
  • Alcance: 8.785 km
  • Tripulação: 5 (piloto, co-piloto, navegador/engenheiro de voo e dois mestres de carga); até 7 médicos/enfermeiros em missões de evacuação aeromédica
  • Carga: 6 “pallets” ou 16 fardos ou 92 soldados armados ou 64 paraquedistas; até 74 macas em missão de evacuação aeromédica

Perfis

C-130E 2450, 1º/1º Grupo de Transporte, 1964-1967.
C-130E 2452, 1º/1º Grupo de Transporte, 1967-1971.
C-130E 2453, 1º/1º Grupo de Transporte, 1971-1979.
C-130E 2459, 2º/1º Grupo de Transporte de Tropa.
SC-130E 2458, 1º/6º Grupo de Aviação, 1985-1988.
SC-130E 2458, 1º/1º Grupo de Transporte (após 1988).
SC-130E 2459, 1º/6º Grupo de Aviação, 1985-1988.
SC-130E 2459, 2º/1º Grupo de Transporte de Tropa.
SC-130E 2460, 1º/6º Grupo de Aviação, 1971-1985.
C-130E 2460, 1º/1º Grupo de Transporte, 1964-1967.
C-130H 2456, 2º/1º Grupo de Transporte de Tropa.
C-130H 2465, 2º/1º Grupo de Transporte de Tropa.
C-130H 2466, 1º/1º Grupo de Transporte – camuflagem experimental em verde (2004).
C-130H 2467, 1º/1º Grupo de Transporte, 2005.
C-130H 2468, 1º/1º Grupo de Transporte – aeronave utilizada com acabamento em alumínio, perdida em acidente antes de ser camuflada.
C-130H 2474, 1º/1º Grupo de Transporte – primeira aeronave modernizada e pintada no novo padrão de camuflagem da FAB (2005).
C-130H 2475, 1º/1º Grupo de Transporte – camuflagem padrão OTAN.
C-130H 2478, 2º/1º Grupo de Transporte de Tropa – pintado em cinza.
KC-130H 2461, 2º/1º Grupo de Transporte de Tropa, 1976-1979.
KC-130H 2462, 2º/1º Grupo de Transporte de Tropa, 1979.

Bibliografia:

  1. Comando da Aeronáutica. DCA 400-83 – Desativação Parcial do Projeto C-130 da FAB. 2016.
  2. Comando da Aeronáutica. DCA 400-87 – Desativação do Projeto C-130 da FAB. 2022.
  3. J. Flores Jr., “Aeronaves Militares Brasileiras – 1916 – 2015”, Action Editora, Rio de Janeiro, 2015.
  4. Lockheed C-130: o Hércules da FAB. In: RADAR (Jornal da Radar Associação Aeronáutica), Ano IV, Nº 15. Porto Alegre, 1995.
  5. SCRAMBLE Database. www.scramble.nl. Visitado em 17/11/2005.