Lockheed T-33A Thunderbird

AT-33 4336, 1º/14º Grupo de Aviação (foto Rudnei Dias da Cunha).

O Lockheed T-33A Thunderbird é um treinador a jato, biplace em tandem, derivado do Lockheed P-80 Shooting Star, o primeiro avião a jato a equipar as unidades de caça das “U.S. Army Air Forces”, a partir de 1945.

Quando da introdução do P-80 em serviço, o número de acidentes envolvendo-o foi muito elevado, dada a inexistência de um treinador que permitisse uma melhor instrução dos pilotos – fossem novos ou veteranos acostumados a aviões com motor a pistão – às peculiaridades da operação de um avião a jato. Não obstante a sugestão da Lockheed de produzir uma variante de treinamento baseada no P-80, as USAAF não demonstraram interesse.

Assim, em maio de 1947, a Lockheed decidiu iniciar, por conta própria, os estudos que levariam enfim ao T-33A, com um investimento inicial de um milhão de dólares. Três meses após, a já então independente U.S. Air Force passou a interessar-se no projeto, autorizando a modificação em um treinador a jato de um P-80C então em construção, sob a designação inicial de TP-80C.

A fim de acomodar um segundo ocupante na fuselagem do P-80C, com o mínimo de modificações, os projetistas da Lockheed enxertaram duas extensões na fuselagem, à frente e atrás da asa, resultando em um acréscimo de 1,28m ao comprimento original da fuselagem. A instalação dos equipamentos necessários ao segundo ocupante levou a uma sensível redução da capacidade do tanque de combustível da fuselagem (de 207 para 95 galões); tal perda foi remediada com a instalação de tanques de combustível nas asas e, posteriormente, de tanques fixos nas pontas das asas, característica marcante da versão de treinamento.

A cabine foi equipada com comandos duplos e assentos ejetáveis. Para a cobertura da cabine de pilotagem, com os dois ocupantes em tandem – instrutor no assento traseiro e pupilo no dianteiro – a Lockheed propôs originalmente que o canopi fosse em três partes separadas, abrindo lateralmente; a pedido da USAF, a cobertura passou a ser em uma peça única, abrindo verticalmente.

O armamento foi reduzido de seis para duas metralhadoras de 12,7mm no nariz, podendo no entanto ter as seis metralhadoras instaladas, em caso de necessidade. Também foi instalada uma câmera na parte interna da tomada de ar direita, para filmar os resultados obtidos com tiro aéreo.

Pouco menos de um ano após terem sido iniciados os estudos para a sua construção, o primeiro TP-80C (Bu.No. 48-356) realizou seu voo inicial a 22 de março de 1948. Os primeiros vôos demonstraram que ele apresentava características de voo similares às do P-80C sendo, no entanto, um pouco mais rápido do que este. Com a criação da USAF em 1947, as aeronaves tiveram suas designações modificadas, e o Shooting Star passou a ser o TF-80C até que, a 5 de maio de 1948, foi redesignado como T-33A.

Além da USAF, também a “U.S. Navy” e “U.S. Marine Corps” interessaram-se pelo T-33A, o que levou à produção de uma variante adaptada para uso naval, equipada com trem de pouso e estrutura reforçadas e gancho de retenção para pouso em porta-aviões, conhecida como T-1A SeaStar. Outras variantes foram as de ataque ao solo (AT-33A, equipada com suportes para bombas e foguetes nas asas), de reconhecimento (RT-33A, equipada com câmeras verticais e oblíquas em um nariz modificado e com o espaço originalmente destinado ao instrutor ocupado por equipamentos eletrônicos), de reconhecimento meteorológico (WT-33A), de controle de alvos aéreos (DT-33A) e, finalmente, os QT-33A, aviões-robôs utilizados como alvos aéreos.

A primeira encomenda, de apenas vinte exemplares, foi apenas o início de uma brilhante carreira que ainda não se encerrou, pois o T-33A continua em serviço em países como o Canadá, Cingapura, Bolívia e Tailândia. Um total de 5.691 exemplares foram construídos pela Lockheed; o T-33A também foi construído sob licença, pela Canadair (do Canadá), a qual produziu 656 Canadair CL-30 (equipados com turbojato Rolls-Royce Nene e conhecidos como T-33AN Silver Star pela “Royal Canadian Air Force” e posteriormente como CT-133 pelas “Canadian Armed Forces”), e pela Kawasaki (do Japão), cuja produção de 210 exemplares foi destinada à “Nihon Koku Jieitai” (Força Aérea de Autodefesa do Japão).

A Força Aérea Brasileira operou 58 T-33A, os quais receberam os números de matrícula FAB 4310 a FAB 4367. Deste total, 48 eram AT-33A-20-LO, configurados para missões de apoio tático, com capacidade para carregar duas bombas de 454 kg ou 10 foguetes HVAR de 12,7 mm sob as asas. Os dez exemplares de treinamento foram designados como T-33 e T-33A, e os demais receberam a designação TF-33, TF-33A e AT-33A.

Linha de T-33 e AT-33A no 1º do 4º GAV (Arquivo Rudnei Dias da Cunha).

Os T-33A foram operados pela FAB utilizando um acabamento em metal natural, com as estrelas pintadas em quatro posições nas asas, e o retângulo verde-amarelo pintado na deriva, com a matrícula e designação da aeronave pintadas acima do retângulo, em preto. Os dois últimos dígitos da matrícula eram repetidos no nariz. As tomadas de ar receberam pinturas em vermelho, em diferentes estilos. Painéis anti-brilho eram pintados à frente da cabine de pilotagem, bem como na porção interior dos tanques de combustível nas pontas das asas.

Os primeiros T-33A chegaram ao Brasil em 1956 e equiparam inicialmente o 1º/4º Grupo de Aviação, sediado na Base Aérea de Fortaleza. Em fevereiro de 1967 o 1º/14º Grupo de Aviação, na Base Aérea de Canoas, recebeu seus primeiros TF-33, seguido pelo 1º Grupo de Aviação de Caça (sediado na Base Aérea de Santa Cruz) em 1967.

TF-33 4348 (via N. L. Senandes).
TF-33A 4359, 1º/4º Grupo de Aviação (via N.L.Senandes).

O T-33A foi substituído pelo EMBRAER AT-26 Xavante em 1972 no 1º GAVCA e em 1973 no 1º/4º GAV, tendo sido todos os exemplares remanescentes transferidos para o 1º/14º GAV, o qual os utilizou até 1975, quando foi finalmente retirado de serviço, substituído pelo Northrop F-5E Tiger II.

Dentre os exemplares atualmente no acervo da FAB, encontram-se o TF-33 FAB 4328, no Museu da Academia da Força Aérea, um TF-33 na Base Aérea de Santa Cruz, o AT-33A FAB 4336 em exposição na Base Aérea de Canoas, e o TF-33 FAB 4364, exposto no Museu Aeroespacial, ambos ostentando a faixa azul-celeste com o Cruzeiro do Sul, utilizada pelo 1º/14º GAV.

CARACTERÍSTICAS TÉCNICAS (Lockheed T-33A Thunderbird)

  • Motor: Um turbojato Allison J33-A-35 de 5.200 lb de empuxo
  • Envergadura: 11,85 m
  • Comprimento: 11,48 m
  • Altura: 3,55 m
  • Superfície alar: 21,81 m2
  • Peso: 3.794 kg (vazio); 6.831 kg (máximo)
  • Velocidade: 965 km/h (máxima)
  • Razão de ascensão: 1.484 m/min
  • Teto de serviço: 14.630 m
  • Alcance: 2.050 km (máximo)
  • Tripulantes: dois, em tandem
  • Armamento: duas metralhadoras 12,7 mm; capacidade para carregar
    duas bombas de 454 kg e até 10 foguetes de 5″ em cabides subalares.

Perfis

TF-33A 4325, 1º/4º Grupo de Aviação.
TF-33A 4364, 1º/4º Grupo de Aviação.
TF-33A 4335, 1º/14º Grupo de Aviação.

Bibliografia:

  1. J.M. Andrade, “Latin-American Military Aviation”, First Edition, Midland Counties Publications, 1982.
  2. B. Gunston, “The Encyclopedia of World’s Combat Aircraft”, Salamander/Hamlyn, Londres, 1978.
  3. A. Hall, “Lockheed T-33A”. In: Scale Aircraft Modelling, V. 15, No. 3, pp. 102-118.
  4. F.C. Pereira Netto, “Aviação Militar Brasileira 1916-1984”, Editora Revista de Aeronáutica, Rio de Janeiro, 1984.
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