O Lockheed-Vega 37 era um bombardeiro médio desenvolvido, em 1940, a partir do Lockheed 18 Lodestar e oferecido à Comissão Britânica de Compra de Material Bélico nos EUA. Projetado como um substituto do Lockheed A-28A Hudson, o Modelo 37 tinha quatro tripulantes e era equipado com oito metralhadoras .303in (duas no nariz, duas na parte superior do nariz, duas na torreta dorsal e duas num túnel ventral), além de poder levar 2.500lb de bombas. A fuselagem traseira ventral tinha um recorte para duas metralhadoras e era equipada com placas de blindagem.
Batizado de Ventura pelos britânicos, foram adquiridos 300 exemplares da versão Mark I em 1940, para equipar a Royal Air Force (RAF). Os Ventura I eram equipados com dois motores radiais Pratt&Whitney R2800-SIA4-G de 1.850HP e tinham tanques de combustível e de óleo auto-selantes.
O primeiro protótipo, matriculado AE658 na RAF, voou no dia 31 de julho de 1941. As entregas à RAF iniciaram em setembro de 1941, mas os Ventura só foram utilizados em combate na segunda metade de 1942. Pesadas perdas foram sofridas pelos britânicos no Noroeste da Europa, e o tipo logo foi substituído nos esquadrões por outras aeronaves, como o de Havilland D.H.98 Mosquito e o North American B-25 Mitchell; no Teatro de Operações do Mediterrâneo, no entanto, os esquadrões da RAF, da South African Air Force (SAAF), da Royal Canadian Air Force (RCAF), da Royal Australian Air Force (RAAF) e da Royal New Zealand Air Force (RNZAF) tiveram um bom desempenho.
O Ventura II era similar ao Mark I, porém era equipado com dois motores radiais Pratt&Whitney R2800-31 de 2.000HP. Essa foi a última versão entregue através de contratos diretos com o Reino Unido, os demais – modelos 137 e 237 – sendo fornecidos no âmbito da Lei de Empréstimo e Arrendamento (“Lend-Lease”). O Modelo 137, designado como B-34 pelas US Army Air Forces (USAAF) e como Ventura IIA pelos britânicos, apresentava pequenas modificações em relação ao Mark II, como a substituição da torreta dorsal Boulton Paul, de fabricação britânica, por uma Martin, norte-americana, bem como outros equipamentos de bordo, que passaram a ser de fabricação norte-americana. O Ventura IIA foi entregue à RAF e demais forças aéreas da Comunidade Britânica de Nações; alguns foram retidos pela USAAF.
A versão definitiva foi o Modelo 237 (ou Vega Modelo 23), produzida a partir de 1942 para a US Navy (USN) como o PV-1 (“Patrol Vega-1”, indicando ser o primeiro modelo de patrulha produzido pela fábrica Lockheed-Vega). O PV-1 tinha dois pilotos (ao contrário dos Ventura britânicos, com apenas um) e utilizava os mesmos motores do Ventura II; o armamento passou a contar com metralhadoras Browning M2 de .50in instalados no nariz e na torreta dorsal, e Browning M2 de .30in nas demais posições. A carga de bombas – as quais incluíam bombas de uso geral, cargas de profundidade e torpedos – passou a ser de 3.000lb e as asas foram reforçadas, capazes de carregarem tanques extras de combustível, e até 1.000lb de bombas ou 4 foguetes HVAR de 5in. Os PV-1 também foram entregues às forças britânicas, onde foram designados como Ventura GR.V (“general reconnaissance”, esclarecimento marítimo).
Um total de 2.493 exemplares de Ventura e PV-1 foram construídos, o último exemplar sendo entregue à USN em maio de 1944.
OPERADORES MILITARES DO LOCKHEED-VEGA VENTURA
Os seguintes países utilizaram o Lockheed-Vega Ventura, em suas diferentes versões, para fins militares: África do Sul, Austrália, Brasil, Canadá, Cuba, EUA, França Livre, Nova Zelândia e Reino Unido.
O PV-1 NA FORÇA AÉREA BRASILEIRA
Em 1943 uma unidade especializada foi criada, a United States-Brazilian Training Unit (UsBaTu), na Base Aérea de Natal – BANT; treinamento específico na arte da guerra anti-superfície/anti-submarina foi dado por instrutores norte-americanos, com o objetivo de preparar pessoal da FAB para a utilização do PV-1 em missões de patrulha. O curso tinha a duração de seis semanas e a primeira turma, composta por 36 oficiais aviadores e 54 sargentos especialistas, graduou-se em 26 de novembro de 1943. Com o término do curso, o pessoal da FAB era enviado para estagiar em unidades de patrulha da USN sediadas no Brasil, participando de missões de guerra lado a lado com as equipagens norte-americanas.
Outras duas turmas graduaram-se no ano seguinte, em 31 de janeiro e em 29 de março de 1944. Esse curso foi tão bem sucedido que “USBATU” virou sinônimo de curso de treinamento na FAB (mesmo que não tivesse qualquer conexão com o curso original).
Em 30 de março de 1944, quatorze aeronaves PV-1 foram recebidos pela FAB, o que aumentou sua capacidade de resposta à ameaça submarina. Essas aeronaves equiparam o 1º Grupo de Bombardeio Médio – 1º GBM, sediado na Base Aérea de Recife – BARF. No dia 15 de abril de 1944, o 1º GBM, comandado pelo Maj.-Av. Roberto Carlos de Assis Jatahy, encontrava-se pronto para operar; no dia seguinte, passou a desempenhar as missões até então executadas pelo esquadrão VB-143 da USN, sediado em Recife, o qual retornou aos EUA dez dias mais tarde. O 1º GBM passou, então, a ser responsável pela proteção de uma extensão de litoral de 420km aproximadamente, realizando missões de cobertura de comboios, anti-submarinas e outras. Uma aeronave foi perdida em acidente ocorrido em 28 de dezembro de 1944, na BARF.
Os PV-1 receberam, na FAB, a designação B-34, não exatamente apropriada, já que essa era a designação USAAF referente ao Modelo 137. Após a guerra, os PV-1 passaram a ser utilizados em missões de transporte, e os últimos remanescentes permaneceram em serviço até 1962.
LOCKHEED-VEGA PV-1 VENTURA NA FAB |
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Ordem | Tipo | Matrícula | c/n | BuNo USN | Ex-FAB | Observação |
01 | PV-1 | 5034 | 6193 | 49377 | FAB-01 | Acidentado Recife 28/12/44; Descarregado 28/05/46 |
02 | PV-1 | 5035 | 6194 | 49378 | FAB-02 | Descarregado 05/03/59 NRR |
03 | PV-1 | 5036 | 6195 | 49379 | FAB-03 | Acidentado Recife 17/03/54; Descarregado 10/03/55 |
04 | PV-1 | 5037 | 6196 | 49380 | FAB-04 | Descarregado 28/03/62 – Desativação – Obsoleto |
05 | PV-1 | 5038 | 6197 | 49381 | FAB-05 | Descarregado 07/02/52 – NRR |
06 | PV-1 | 5039 | 6239 | 49423 | FAB-06 | Acidentado Recife/PE 26/07/47 |
07 | PV-1 | 5040 | 6240 | 49424 | FAB-07 | Descarregado 20/12/57 – Desativação |
08 | PV-1 | 5041 | 6241 | 49425 | FAB-08 | Descarregado 05/03/59 – NRR |
09 | PV-1 | 5042 | 6242 | 49426 | FAB-09 | Acidentado Recife/PE 1948 |
10 | PV-1 | 5043 | 6243 | 49427 | FAB-10 | Convertido em CB-34 31/01/58; Descarregado 1962 |
11 | PV-1 | 5044 | 6327 | 49511 | FAB-11 | Acidentado Recife/PE 26/01/55; Descarregado 09/05/55 |
12 | PV-1 | 5045 | 6328 | 49512 | FAB-12 | Convertido em CB-34 31/01/58; Descarregado 1962; Matrícula civil PT-CDX 1964 |
13 | PV-1 | 5046 | 6329 | 49513 | FAB-13 | Descarregado 20/12/57; Desativação |
14 | PV-1 | 5047 | 6330 | 49514 | FAB-14 | Acidentado Salvador/BA 26/10/55 – Descarregado 30/09/58 |
CARACTERÍSTICAS TÉCNICAS (LOCKHEED-VEGA PV-1 VENTURA B-34)
- Motor 2 motores radiais de 18 cilindros em duplas estrela, Pratt&Whitney R-2800-31 de 2.000 HP
- Envergadura: 19,96 m
- Comprimento: 15,77 m
- Altura: 3,63 m
- Superfície alar: 51,19 m2
- Peso: 9.161 kg (vazio); 15.422 kg (máximo)
- Velocidade: 518 km/h (máxima, a 4.205 m)
- Razão de ascensão: 680 m/min
- Teto de serviço: 8.015 m
- Alcance: 2.670 km
- Armamento: 2 metralhadoras Browning M2 .50 pol fixas, no nariz; 2 metralhadoras Browning M2 .50 pol na torreta dorsal; 2 metralhadoras Browning M2 .30 pol no túnel ventral; seis bombas de 500 lb ou até duas bombas de 1.000 lb sob as asas ou até 2.000 lb em cargas de profundidade ou 8 foguetes não-guiados em trilhos sob as asas.
Perfis
Bibliografia:
- P.J. Marson, “The Lockheed Twins”, Air-Britain, Grã-Bretanha, 2001.
- F.C. Pereira Netto, “Aviação Militar Brasileira 1916-1984”, Editora Revista de Aeronáutica, Rio de Janeiro, 1984.