Curtiss C-46 Commando

por APARECIDO CAMAZANO ALAMINO

Em fins da década de 30, a aviação experimentou um desenvolvimento extraordinário e, com a eclosão da Guerra Civil Espanhola, ficou patente a necessidade do emprego de aeronaves de maior porte para a realização das missões de transporte aéreo.

Nesse sentido, a Curtiss Wright Corporation, dos Estados Unidos, iniciou o projeto de uma aeronave de grande porte, para os padrões da época, designada Curtiss CW-20, que teria a capacidade de transportar até 36 passageiros e concorreria diretamente com os Douglas DC-2 e DC-3, recém-lançados e com menor capacidade.

O protótipo, matriculado 41-5159, realizou o primeiro vôo em 26 de março de 1940, excedendo as expectativas dos projetistas.

Com a entrada dos Estados Unidos na IIª Guerra Mundial, a produção da Curtiss foi inteiramente orientada para as atividades militares, onde o novo avião passou a ser identificado como C-46 Commando, pelas United States Army Air Forces – USAAF (Forças Aéreas do Exército Norte-Americano), e como R5C, pela U.S. Navy – USN (Marinha Norte-Americana). A primeira aeronave de série ficou pronta em maio de 1942 e as primeiras entregas ao U. S. Army começaram em julho do mesmo ano.

Do total de 3.182 unidades fabricadas, a USAAF utilizou 2.900, que foram as responsáveis pela execução das mais diversas missões durante a guerra, onde transportavam 50 soldados equipados, carga e outros materiais, principalmente na ponte-aérea do Himalaia, quando os americanos abasteceram pelo ar a China, decolando da Índia com os aviões abarrotados de suprimentos destinados às tropas aliadas sitiadas pelos japoneses na Birmânia.

Quando o conflito terminou, os C-46 foram despojados das marcas militares e iniciaram uma nova e longa carreira, desta vez na pujante aviação comercial de pós-guerra. Oferecidos por preços extremamente atraentes, tiveram uma enorme aceitação num grande número de países, e só as empresas aéreas brasileiras utilizaram cerca de 157 deles entre os anos de 1947 a 1986.

Inúmeros países também receberam dos americanos, ou compraram de empresas comerciais algumas aeronaves C-46, que foram incorporadas às suas frotas de transporte militar, onde operaram até meados dos anos 70, com muito sucesso e eficiência.

Após a guerra, a Curtiss desenvolveu o Modelo CW-20E, para a aviação comercial, que não obteve muito sucesso, pois os modelos desativados da guerra eram os preferidos para conversão para o transporte de passageiros e de carga, com a colocação de poltronas e revestimento interno.

PRINCIPAIS MODELOS DO CURTISS C-46

Em sua época, os aviões tinham uma versão básica, que recebia os arranjos internos necessários para a sua operação; com o Curtiss Commando não foi diferente. Os seus principais modelos foram:

CW-20: Designação de fábrica. Mais conhecido na aviação militar como C-46; e
CW-20E: Desenvolvido após a guerra, para a aviação comercial. Não obteve sucesso.

UTILIZAÇÃO MUNDIAL DO CURTISS C-46

Após a guerra, os EUA cederam inúmeros Curtiss Commando para os países aliados, que os empregaram como transporte militar em suas forças aéreas: Bolívia, Brasil, China Nacionalista, Colômbia, Coréia do Sul, Inglaterra, Japão, Peru, dentre outros.

O CURTISS C-46 NA FAB

A história dos Curtiss C-46 da Força Aérea Brasileira é particularmente interessante e bem pouco conhecida. O seu início ocorreu em novembro de 1947, quando o empresário Vinícius Valadares Vasconcelos importou dois deles dos Estados Unidos, transferindo-os, no ano seguinte, para a FAB, por não ter condições de manter as aeronaves em operação comercial.

As aeronaves foram designadas como C-46 e matriculadas FAB 2057 e FAB 2058, sendo destinadas ao 2º Grupo de Transporte – 2º GT, sediado no Campo dos Afonsos, Rio de Janeiro, onde seriam utilizadas para a realização de missões de transporte de passageiros e de carga nas linhas do Correio Aéreo Nacional – CAN, no Brasil e para o exterior.

Por infelicidade, o FAB 2057 teve vida efêmera na FAB, pois, onze meses após ter sido incorporado, acidentou-se, em 13 de outubro de 1949, nas proximidades da cidade de Oruro, Bolívia, com perda total, quando realizava missão em proveito do CAN.

Mais afortunado, o FAB 2058 operou no 2º GT até 1956, quando foi transferido para o então Parque de Aeronáutica dos Afonsos – PAAF, onde foi utilizado como aeronave orgânica, realizando missões de apoio às Unidades da FAB cujos aviões eram revisados em tal Parque, até abril de 1968, quando foi desativado das fileiras do PAAF e da FAB.

Após a sua desativação, o 2058 permaneceu estacionado nos pátios do PAAF, no aguardo de ser preservado. Infelizmente, o parecer da época foi desfavorável, pois foi julgado de valor insignificante para a FAB, que só havia operado duas unidades. Assim sendo, o 2058 foi revisado, recebeu a matricula civil PP-PLB, e foi colocado à venda.

Em fins de 1980, a aeronave foi trasladada para o Aeroporto Santos-Dumont, onde permaneceu por cerca de oito anos abandonada no tempo e na maresia, quando foi recuperada novamente e deslocada para Belém – PA, onde operou na Taxi Aéreo Royal até meados de 1996, quando foi novamente parada.

Já com nova filosofia, em meados de 1997, o Museu Aeroespacial – MUSAL, iniciou gestões junto aos seus proprietários, com a finalidade de adquirir o C-46 PP-LBP e trazê-lo para o Rio de Janeiro, para que fosse preservado.

A aeronave foi novamente adquirida e trasladada em vôo para as oficinas da VARIG, no Aeroporto Internacional Tom Jobim (Galeão), no Rio de Janeiro, onde recebeu a pintura da FAB, em seu último esquema, que foi utilizado no PAAF no final de sua operação, e preparou-o para o seu último vôo, que ocorreu em 03 de julho de 1998, na rota Galeão – Campo dos Afonsos, sendo pilotado pelos Comandantes José Jaú Margalho e Elizeu Fernandes.

Assim, esta singular aeronave será preservada para sempre em tal museu e poderá ser visitado e admirado por todos que não viveram a sua gloriosa época de utilização no mundo e no Brasil.

CARACTERÍSTICAS TÉCNICAS (Curtiss C-46 Commando)

  • Motor: 2 motores radiais Pratt&Whitney R-2800-51, de 2.000 HP
  • Envergadura: 32,92 m
  • Comprimento: 23,27 m
  • Altura: 6,63 m
  • Superfície alar: 126,34 m2
  • Peso: 13.608 kg (vazio); 20.412 kg (máximo)
  • Velocidade: 433 km/h
  • Razão de ascensão: 179 m/min
  • Teto de serviço: 8.410 m
  • Alcance: 2.575 km

Perfis

C-46 2058 (1948).
C-46 2058 (1963).
C-46 2058 (1967).

Bibliografia:

  1. A. Camazano Alamino, “Arquivo Aeronáutico”, Brasília, 2002.
  2. F.C. Pereira Netto, “Aviação Militar Brasileira 1916-1984”, Editora Revista de Aeronáutica, Rio de Janeiro, 1984.
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