Em 1935, a Lockheed identificou a necessidade de uma aeronave menor, que atendesse ao mercado de pilotos privados, bem como alimentador das linhas maiores (“feeder liner”). Essa última também havia sido identificada pelo governo norte-americano o qual, através do Bureau of Air Commerce, solicitou aos fabricantes de aeronaves que submetessem projetos de aeronaves, até o dia 30 de junho de 1936.
Dessa forma, a Lockheed desenvolveu o Modelo 12A Electra Junior, uma versão para seis passageiros desenvolvida a partir do Modelo 10 Electra. O Electra Junior era 4ft 3in menor do que o seu antecessor, mas mantinha a mesma configuração – asas baixas e derivas duplas (essas, no entanto, de maior tamanho).
O primeiro protótipo, matriculado NX16052, realizou seu primeiro voo no dia 27 de junho de 1936, três dias antes da data limite imposta pelo governo e, conseqüentemente, ganhando a concorrência. A certificação da aeronave foi concedida no dia 14 de outubro do mesmo ano; a primeira aeronave foi entregue no dia 5 de setembro.
O Electra Junior tinha uma velocidade de 213 mph e, em 1937, Milo Bureham (piloto de provas da Lockheed) pilotou um deles nas corridas aéreas de Bendix, alcançando o quinto lugar.
OPERADORES MILITARES DO LOCKHEED 12
A aeronave foi vendida basicamente para o governo e empresários. Porém, ela também foi utilizada para fins militares. O primeiro usuário militar foi o Exército Argentino, o qual adquiriu os dois únicos exemplares da versão B, em 1937. A US Navy adquiriu alguns exemplares do modelo 12A e o US Army Air Corps operou aeronaves do modelo 12A2, os quais foram designados UC-40(A/B/D).
O principal usuário foi o governo colonial das Índias Orientais Holandesas (IOH), atual Indonésia, o qual adquiriu 16 exemplares do Modelo 212. Esse modelo era uma aeronave de bombardeio leve/treinamento, a qual era equipada com uma metralhadora .303in montada no nariz e uma outra, instalada em uma torreta dorsal; garras para até oito bombas de 100lb foram instaladas abaixo da fuselagem. O primeiro exemplar foi entregue à Militaire Luchtvaart (MLu) (Divisão Aérea) do Exército das Índias Orientais Holandesas em fevereiro de 1939 e o último no dia 13 de maio de 1942, e essas aeronaves engajaram-se em combate durante a invasão japonesa das IOH em 1941/42.
Um fato curioso sobre a utilização do Lockheed 12 ocorreu nos meses que antecederam o início da II Guerra Mundial. Três aeronaves – c/n 1203 (G-AFTL), 1267 (G-AFKR) e 1270 (G-AFPF) – foram adquiridas pelo governo britânico no início de 1939 e registradas como sendo de propriedade da empresa British Airways Ltd. Na Grã-Bretanha, foram secretamente modificadas para realizarem o levantamento aerofotogramétrico da Alemanha – bases aéreas, instalações navais e militares e indústrias, dentre outros alvos – com a instalação de uma câmara vertical modelo F-24 da Royal Air Force (RAF) na cabine (sobre a lente da qual era soprado ar quente para reduzir a condensação em voos a alta altitude), dois tanques de combustível de 70 gal Imp na cabine e uma cobertura em bolha na janela lateral do piloto. Com essas aeronaves, pilotadas por F. Sidney Cotton, obteve-se um inestimável conhecimento sobre a disposição industrial e militar da Alemanha Nazista, o que contribuiu para que se montassem ataques aéreos contra aquele país logo nos primeiros dias da guerra, em setembro de 1939. O maior legado foi, no entanto, a comprovação de que o reconhecimento aéreo era de suma importância na guerra.
Outros países que utilizaram o Lockheed 12, em suas diferentes versões, para fins militares, foram a Argentina, Brasil, Canadá, Espanha, França Livre, Indonésia e Reino Unido.
O LOCKHEED 12A NA AVIAÇÃO MILITAR DO EXÉRCITO BRASILEIRO
Em 1937, o governo brasileiro adquiriu oito exemplares do Modelo 12A. Os dois primeiros exemplares (c/n 1234 e 1235) foram entregues à Diretoria de Aeronáutica (D.Ae.) do Exército Brasileiro no dia 13 de setembro de 1937; os demais foram entregues em 15 de fevereiro de 1940 (c/n 1278 e 1279) e em 28 de abril de 1941 (c/n 1288, 1289, 1290 e 1291). Essas aeronaves foram matriculadas D.Ae. 01 a D.Ae. 08, respectivamente.
Os 12A foram utilizados pela D.Ae. como aeronaves de transporte de autoridades militares e governamentais, inclusive o Presidente Getúlio Vargas. Um dos pilotos dessas aeronaves era o então Cap. Nero Moura, o qual viria a comandar o 1º Grupo de Aviação de Caça na Itália, em 1944/45.
O LOCKHEED 12A NA FORÇA AÉREA BRASILEIRA
Com a criação da Força Aérea Brasileira (FAB) em 1941, os 12A foram transferidos para a FAB em 22 de maio de 1941, sendo matriculados FAB-01 a FAB-08. Em 1945, as oito aeronaves receberam a designação UC-40. Os UC-40 foram sendo progressivamente desativados, até 1963, quando os últimos três – UC-40 2656, UC-40 2657 e UC-40 2659 – deixaram de pertencer à FAB, após 26 anos de operação.
LOCKHEED 12A (UC-40) NA FAB | |||||
Ordem | Matrícula | c/n | Ex-DAe | Ex-FAB | Observação |
01 | FAB 2656 | 1234 | 01 | FAB-01 | Descarregado 20/02/63 – Desativação |
02 | FAB 2657 | 1235 | 02 | FAB-02 | Descarregado 18/03/63 – Desativação – Matriculado PT-CDU 06/06/66 – Encerrou Registro no DAC antes de 31/12/75. |
03 | FAB 2658 | 1278 | 03 | FAB-03 | Descarregado 16/11/50 NRR-Recuperado e matriculado PP-VTA – Encerrou Registro no DAC em 09/8/71. |
04 | FAB 2659 | 1279 | 04 | FAB-04 | Descarregado 20/02/63 – Desativação – Alocada matrícula PT-CZL (MNU) |
05 | FAB 2660 | 1288 | 05 | FAB-05 | Descarregado 1948 – NRR |
06 | FAB 2661 | 1289 | 06 | FAB-06 | Descarregado 12/12/44 |
07 | FAB 2662 | 1290 | 07 | FAB-07 | Descarregado 1947 – NRR |
08 | FAB 2663 | 1291 | 08 | FAB-08 | Descarregado 05/08/60 – após acidente NRR |
CARACTERÍSTICAS TÉCNICAS (LOCKHEED 12A UC-40)
- Motor: 2 motores radiais de 9 cilindros Pratt&Whitney Wasp Junior de 450 HP
- Envergadura: 15,09 m
- Comprimento: 11,07 m
- Altura: 2,97 m
- Superfície alar: 32,70 m2
- Peso: 2.615 kg (vazio); 3.924 kg (máximo)
- Velocidade: 362 km/h (máxima, a 1.525 m)
- Razão de ascensão: 427 m/min
- Teto de serviço: 6.980 m
- Alcance: 1.290 km
Perfis
Bibliografia:
- P.J. Marson, “The Lockheed Twins”, Air-Britain, Grã-Bretanha, 2001.
- F.C. Pereira Netto, “Aviação Militar Brasileira 1916-1984”, Editora Revista de Aeronáutica, Rio de Janeiro, 1984.