O Consolidated PBY foi o aerobote e hidroavião construído em maior quantidade durante a II Guerra Mundial, num total de 3.281 exemplares, incluindo sua produção sob licença no Canadá; um número desconhecido de PBY foi construído na União Soviética.
O modelo 28 da Consolidated foi projetado por Isaac M. Laddon em 1933, em resposta a uma requisição da U.S. Navy para um aerobote com um alcance de 3.000 milhas, velocidade de cruzeiro de 100mi/h e um peso máximo de 25.000lb. Tendo recebido a designação XP3Y-1, um exemplar foi encomendado pela USN em 28 de outubro de 1933. O seu primeiro vôo foi em 21 de março de 1935 e logo foi constatada uma má estabilidade direcional, o que resultou em duas modificações no desenho do leme, até que o problema foi resolvido.
Devido à sua capacidade para carregar até 2.000lb de bombas, o XP3Y-1 foi redesignado como XPBY-1, o X indicando o caráter experimental do protótipo; PB correspondia à função da aeronave (“patrol bomber”) e Y, por fim, era o designativo da fábrica. Com essa nova designação, o protótipo, já com inúmeras modificações, levantou vôo no dia 19 de maio de 1936.
O sucesso nos testes levou a USN a adquirir 60 exemplares do primeiro modelo de produção, o PBY-1, em 1935; esses foram seguidos por 50 PBY-2 e 66 PBY-3, adquiridos em 1936 e, um ano após, por 32 PBY-4. Essa última variante introduziu as características “bolhas” para os metralhadores, situadas nas laterais da fuselagem traseira.
Com a situação na Europa deteriorando-se rapidamente ao final dos anos 30, uma comissão francesa de compra de material foi enviada aos EUA para selecionar aeronaves adequadas ao uso das forças francesas. Dentre outras aeronaves, essa comissão escolheu o Consolidated Model 28-5, dos quais 30 exemplares foram encomendados; no entanto, com a queda da França, em maio de 1940, a Grã-Bretanha acabou por recebê-los. A serviço das forças britânicas, essa aeronave foi designada Catalina I, e 67 outros exemplares foram adquiridos, 18 dos quais pela Austrália.
Em dezembro de 1939, a USN encomendou 200 exemplares do Consolidated Model 28-5, designado como PBY-5. Um total de 167 exemplares dessa encomenda foram entregues como aerobotes, e os restantes foram os primeiros a serem produzidos como anfíbios, incorporando um trem de pouso triciclo, retrátil. A variante anfíbia ficou conhecida como PBY-5A, dos quais 802 exemplares foram produzidos; desses, 230 foram entregues às U.S. Army Air Forces, onde eram conhecidos como OA-10A, para equipar os esquadrões de busca-e-salvamento. Alguns PBY-5A eram equipados com radar, instalado em um radome acima da cabine.
Em 1941, a Naval Aircraft Factory, uma fábrica de aerobotes da USN, passou a construir uma versão modificada do PBY-5, chamada de PBN-1 Nomad, incorporando um casco alongado e outras modificações, dentre elas uma deriva de maior altura, com estabilizadores horizontais de perfil diferente. Apenas 155 exemplares dessa variante foram produzidos, 17 dos quais entregues à USN e os demais sendo utilizados pela União Soviética.
A Consolidated projetou, por fim, o PBY-6A, 900 dos quais foram encomendados pela USN, mas apenas 175 foram entregues antes do contrato ser cancelado, com a rendição alemã. Essa versão incorporava a cauda modificada do PBN-1 e foi utilizada pelos norte-americanos a partir de 1945.
O Catalina foi produzido em licença, durante a guerra, pelas fábricas Boeing e Vickers, no Canadá, e também na União Soviética. A Boeing produziu inicialmente o PB2B-1, baseado no PBY-5A e, posteriormente, o PB2B-2, o qual incorporou a cauda modificada do PBN-1. A versão do PBY-5A produzida pela Vickers ficou conhecida como PBV-1A. As variantes soviéticas do PBY-5/5A eram conhecidas como GST ou MP-7, e os PBN-1 foram designados como KM-1 e KM-2, de acordo com os motores utilizados; o total de aeronaves lá construídas é desconhecido.
Um total de 2.395 exemplares das diferentes versões foram produzidos pela Consolidated (incluindo duas aeronaves enviadas à URSS na forma de “kits”); mais 886 exemplares foram produzidos pelas fábricas Boeing (362), Vickers (369) e NAF (155), fazendo do Catalina o aerobote/avião anfíbio construído em maior número no mundo.
O Catalina em serviço na FAB
Em 1943, chegavem ao Brasil os primeiros Catalina a serem entregues à FAB, dentro do acordo “Lend-Lease”. Eram 7 exemplares da versão PBY-5, os quais foram baseados em Florianópolis (um), Belém (três) e Galeão (três). No dia 31 de julho desse ano, o PBY-5 ‘2’, sediado no Galeão, afundou o submarino alemão U-199.
Outros 15 PBY-5A foram entregues em 1944, os quais foram inicialmente baseados no Galeão. Ainda nesse ano, foi criado o 1º Grupo de Patrulha, com sede em Belém, e o 2º Grupo de Patrulha, sediado no Galeão, ambos equipados com os Catalina. Com o final da guerra, os PBY-5 e PBY-5A passaram a ser denominados na FAB, respectivamente, como P-10 e PA-10.
Em 1947, com a reorganização das unidades da FAB, foi desativado em Belém o 1º Grupo de Patrulha e criado, em seu lugar, o 1º Esquadrão do 2º Grupo de Aviação (1º/2º GAv), o qual passou a operar os Catalina. Nesse mesmo ano, alguns Catalina da FAB passaram a ser usados em missões de busca-e-salvamento. Para tanto, foram pintadas faixas em laranja na fuselagem dos Catalina, indicativo da missão “SAR” (“search-and-rescue”).
No ano de 1956, ocorreu a revolta de Jacareacanga, por parte de alguns oficiais da FAB. Em resposta, o governo montou uma expedição para prender os revoltosos. No dia 23 de fevereiro, o PA-10 FAB 6514 metralhou o Beechcraft AT-11 FAB 1523 no campo de aviação de Santarém, o qual estava sob o poder dos amotinados.
Em 1958, os Catalina remanescentes foram enviados aos EUA para serem modificados para aviões de carga. Nessa configuração, foram perdidas as “bolhas” laterais e a torreta de metralhadora frontal, e foram adicionadas janelas para os passageiros. Uma porta para carga foi instalada no lugar da “bolha” esquerda. As aeronaves assim modificadas passaram a ser chamadas de CA-10 e CA-10A.
Com a desativação do 1º/2º GAv em 1969, os Catalina foram transferidos para o 1º Esquadrão de Transporte Aéreo, unidade que o sucedeu e continuou operando a aeronave até 1982.
Em 1968, a FAB adquiriu dois Catalina, os quais pertenciam à Petrobrás. Essas aeronaves eram anfíbias, modificadas para o transporte de carga, mas o nariz tinha um perfil diferente daquele do CA-10; essas duas aeronaves foram designadas C-10 e C-10A.
O Catalina foi responsável por ajudar no desenvolvimento da Amazônia, onde a aeronave era, inúmeras vezes, o único meio de se alcançar os povoados mais remotos. Ficou conhecido como “Pata Choca” entre o pessoal da FAB e como “Anjo do Espaço” pelas populações ribeirinhas na Amazônia.
Um único PBY-6A veio a equipar a FAB, tendo sido adquirido da companhia aérea Cruzeiro; recebeu a designação CA-10 e a matrícula FAB 6552. Essa aeronave encontra-se, hoje, em exposição na Base Aérea de Belém. O CA-10 6527 encontra-se em exposição no Museu Aeroespacial, como um tributo aos valorosos serviços prestados por essa aeronave ao Brasil, tanto na paz como na guerra.
Modelo | Matrícula | c/n | Identidade anterior | Descarga da FAB | Observações |
PBY-5 | 6500 | 1059 | BuNo 08165 USN | 1954 | – |
PBY-5 | 6501 | 1060 | BuNo 08166 USN | 1958 | Ex-FAB 02, afundou o U-199; batizado com o nome “Arará” posteriormente |
PBY-5 | 6502 | 1079 | BuNo 08185 USN | 1948 | – |
PBY-5 | 6503 | 1080 | BuNo 08186 USN | 1958 | – |
PBY-5 | 6504 | 1136 | BuNo 08242 USN | 1945 | – |
PBY-5 | 6505 | 1137 | BuNo 08243 USN | 1945 | – |
PBY-5 | 6506 | 1214 | BuNo 08300 USN | 1958 | – |
PBY-5A | 6507 | 1818 | BuNo 46454 USN | 1952 | – |
PBY-5A | 6508 | 1819 | BuNo 46455 USN | 1964 | – |
PBY-5A | 6509 | 1820 | BuNo 46456 USN | – | Vendido nos EUA como N4582T |
PBY-5A | 6510 | 1821 | BuNo 46457 USN | – | Vendido nos EUA como N4582U |
PBY-5A | 6511 | 1823 | BuNo 46459 USN | 1958 | – |
PBY-5A | 6512 | 1860 | BuNo 46496 USN | 1964 | – |
PBY-5A | 6513 | 1888 | BuNo 46524 USN | 1959 | – |
PBY-5A | 6514 | 1917 | BuNo 46553 USN | – | Acidentado na Amazônia, 13/04/72 |
PBY-5A | 6515 | 1918 | BuNo 46554 USN | 1960 | – |
PBY-5A | 6516 | 1919 | BuNo 46555 USN | 1955 | Primeiro a ser pintado no padrão SAR |
PBY-5A | 6517 | 1920 | BuNo 46556 USN | 1958 | – |
PBY-5A | 6518 | 1922 | BuNo 46558 USN | 1951 | – |
PBY-5A | 6519 | 1923 | BuNo 46559 USN | 1952 | – |
PBY-5A | 6520 | 1946 | BuNo 46582 USN | – | Vendido nos EUA como N4583A |
PBY-5A | 6521 | 1784 | BuNo 48422 USN | 1968 | Acidentado em 08/02/68 |
Canso A | 6522 | CV-287 | 11009 (RCAF) | 1967 | – |
Canso A | 6523 | CV-385 | 11068 (RCAF) | 1968 | – |
Canso A | 6524 | CV-298 | 11020 (RCAF) | 1968 | – |
Canso A | 6525 | CV-272 | 9838 (RCAF) | 1982 | Último a ser desativado pela FAB, vendido nos EUA como N4934H |
Canso A | 6526 | CV-393 | 11072 (RCAF) | – | – |
Canso A | 6527 | 21981 | 9752 (RCAF) | – | Em exposição no Museu Aeroespacial |
PBY-5A | 6550 | 1681 | BuNo 48319 USN | – | Adquirido da Petrobrás em 1968; acidentado em S. Antonio do Icá, 04/10/78 |
PBY-5A | 6551 | 1959 | BuNo 46595 USN | – | Adquirido da Petrobrás em 1968 |
PBY-6A | 6552 | 2007 | BuNo 46643 USN | 1982 | Adquirido da Cruzeiro; ex-N955C, ex-PT-BBQ, ex-PP-PEB |
Canso A | 6553 | CV-240 | 9806 (RCAF) | – | Adquirido da Cruzeiro; não entrou em serviço |
PBY-6A | 6554 | – | – | 1978 | Adquirido da Cruzeiro; não entrou em serviço |
CARACTERÍSTICAS TÉCNICAS (Consolidated PBY-5A Catalina)
- Motor: 2 Pratt&Whitney R-1830-92 radial, 14 cilindros, de 1.200 HP
- Envergadura: 31,96 m
- Comprimento: 19,45 m
- Altura: 6,14 m
- Superfície alar: 130 m2
- Peso: 9.484 kg (vazio); 16.066 kg (máximo)
- Velocidade: 281,7 km/h (máxima)
- Razão de ascensão: 188,9 m/min
- Teto de serviço: 3.962 m
- Alcance: 3.778 km
- Armamento: 1 ou 2 metralhadoras Browning M2 de .30 pol na torreta frontal; 1 metralhadora Browning M2 de .50 pol em cada “bolha” lateral; 1 metralhadora Browning M2 de .30 pol no alçapão ventral; até 907 kg em bombas, torpedos ou cargas de profundidade, carregadas sob as asas.
Perfis
Bibliografia:
- Base Aérea de Belém, Edição Histórica – 50 anos, 1994.
- B. Kinzey, “PBY Catalina”, In Detail & Scale, Vol. 66, Squadron/Signal Publications, 2000.
- D. Legg, Consolidated PBY Catalina – The Peacetime Record, Airlife 2001.
- F.C. Pereira Netto, “Aviação Militar Brasileira 1916-1984”, Editora Revista de Aeronáutica, Rio de Janeiro, 1984.
- J.M. Andrade, “U.S. Military Aircraft Designations and Serials – since 1909”, Midland Counties Publications, Hinckley, 1979.
- J.R. de Mendonça, “Catalina”, AERO, Agosto 1982, pp. 10-23.