Patrono da Força Aérea Brasileira
O Marechal do Ar Eduardo Gomes nasceu a 20 de setembro de 1896 em Petrópolis, RJ. Ingressou na Escola Militar e graduou-se em dezembro de 1918, como aspirante-a-oficial na arma de Artilharia. Promovido a 2º-Ten. em dezembro de 1919, após ter concluído o Curso Especial de Artilharia, foi designado para servir no 9º Regimento de Artilharia, sediado em Curitiba, PR.
Foi promovido a 1º-Ten. em janeiro de 1921 e ingressou na Escola de Aviação Militar, no Campo dos Afonsos, RJ, como aluno da primeira turma de Observadores Aéreos Militares.
Em 1922, o governo do Presidente Epitácio Pessoa sofria a oposição dos militares. As eleições de março daquele ano, nas quais elegeu-se Artur Bernardes, não foram aceitas por parte dos oficiais, levando ao confronto entre revoltosos e legalistas a 5 e 6 de julho de 1922, episódio que ficou conhecido como “Os 18 do Forte”. Eduardo Gomes participou da tomada do Forte de Copacabana no dia 5 e, durante o enfrentamento ocorrido na praia de Copacabana, no dia seguinte, foi ferido a bala, sofrendo fratura exposta do fêmur.
Devido ao seu envolvimento na revolta, Eduardo Gomes foi preso em novembro do mesmo ano, após a posse de Artur Bernardes. Libertado pouco tempo depois, graças a um “habeas corpus”, pôs-se a buscar a libertação dos cadetes da Escola Militar que haviam participado do movimento de 1922.
Em dezembro de 1923, quando encontrava-se prestes a ser preso, fugiu para Mato Grosso; lá, trabalhou como mestre-escola, sob o falso nome de Eugênio Guimarães. Dirigiu-se a São Paulo em fins de junho de 1924, a fim de apoiar a conspiração de 5 de julho contra o governo Bernardes, liderada pelo Gen. reformado Isidoro Dias Lopes e pelo Maj. Miguel Costa, da Força Pública de São Paulo.
O 1º-Ten. Eduardo Gomes comandou o 2º Grupo Independente de Artilharia Pesada e o Batalhão de Infantaria da Força Pública de São Paulo. Dada a reação violenta das forças legalistas, Eduardo Gomes realiza quatro missões de reconhecimento aéreo e, no dia 19 de julho, enquanto dirigia-se ao Rio de Janeiro a fim de lançar panfletos sobre a cidade e a Vila Militar – missão por ele sugerida aos revoltosos – é forçado a aterrissar ainda dentro do Estado de São Paulo, em área controlada pelos legalistas. Consegue evadir-se, primeiro a cavalo e depois a pé, indo esconder-se no Rio de Janeiro.
Ao final de 1924, enquanto dirigia-se ao Rio Grande do Sul, a fim de juntar-se à Coluna Prestes, foi preso e levado de volta ao Rio de Janeiro, de onde foi transferido para São Paulo em 1925, onde era processado por sua participação no movimento de 1924. Lá permaneceu preso por um ano, de onde foi transferido novamente para o Rio de Janeiro e, depois, para a Ilha da Trindade, juntamente com outros presos políticos.
Foi posto em liberdade condicional em novembro de 1926, após a eleição de Washington Luiz. Pressentindo novo aprisionamento, fugiu para a região de Campos, RJ, em junho de 1927, aonde trabalhou como engenheiro e funcionário de estrada-de-ferro, sob falsa identidade.
Encontrando-se evadido, seus colegas militares solicitaram a sua transferência para a arma de Aviação do Exército, quando esta foi criada, em 1927.
Eduardo Gomes apresentou-se às autoridades em fins de 1929 e, após ter sido julgado, foi condenado a dois anos de prisão. À essa época, o Brasil vivia um momento de grande inquietação política: um movimento revolucionário, surgido no Rio Grande do Sul e apoiado em outros estados, particularmente a Paraíba, tentava depor o governo Washington Luiz.
A 1º de março de 1930, elege-se o candidato do governo, Júlio Prestes; sob a acusação de fraude nas eleições e subsequentes manobras políticas do governo, prepara-se o cenário para a Revolução de 1930, liderada por Getúlio Vargas, candidato da oposição, derrotado nas eleições. No dia 11 de julho, é assassinado João Pessoa, candidato à vice-presidência na chapa de Vargas, fato que leva ao recrudescimento dos preparativos para a revolução, iniciada a 3 de outubro.
Eduardo Gomes, tendo sido libertado da prisão em maio de 1930, participou do movimento, tendo colaborado para o seu sucesso no estado de Minas Gerais, onde então encontrava-se à frente de seiscentos soldados. Em novembro, após a posse de Vargas no Governo Provisório, foi promovido a capitão no dia 15 e a major cinco dias após, passando a integrar o gabinete do Ministro da Guerra. Nesse período, fez o curso de piloto militar no Campo dos Afonsos.
Com a criação do 1º Grupo Misto de Aviação, em 21 de maio de 1931, no Campo dos Afonsos, o Maj. Eduardo Gomes foi colocado à testa da primeira esquadrilha a ser ativada. Por sua iniciativa, e com o concurso de seus colegas, Montenegro Filho e Lemos Cunha, convence o Ministro da Guerra da necessidade de se criar um serviço postal aéreo, o que permitiria alcançar as regiões internas do país e aprimoraria o treinamento das equipagens. Assim, foi criado o Serviço Postal Aéreo Militar, nome que foi alterado para Correio Aéreo Militar – CAM antes da primeira missão, ocorrida a 12 de junho de 1931, com aviões Curtiss Fledgling pertencentes à Esquadrilha de Treinamento do Grupo.
Durante a Revolução de 1932, comanda o 1º Grupo Misto de Aviação, o qual realizou mais de 1.300 missões de combate ao longo dos três meses de campanha; foi também designado, a 16 de setembro de 1932, comandante das Unidades Aéreas do Destacamento de Exército de Leste. Pela eficiência com que desempenhou suas atividades, foi elogiado a 13 de outubro de 1932 pelo Gen.-de-Divisão Góes Monteiro nos seguintes termos:
“… aqui deixo consignados os meus entusiásticos louvores ao bravo Comandante do Grupo de Aviação, Major Eduardo Gomes, pela competência técnica, calma e comprovada dedicação com que procurou auxiliar as operações de Destacamento de Exército de Leste.” [1]
Em 1935, já como Ten.-Cel., comandante do 1º Regimento de Aviação (unidade sucessora do Grupo), reage à tentativa de tomada da Escola de Aviação Militar pelos revoltosos comunistas, esmagando a insurreição. O então Diretor da Aviação Militar, Gen.-de-Brigada Coelho Netto, assim referiu-se ao episódio:
“… Mas, para consolo nosso, quando na escuridão da noite, tudo, ao redor de si, era tumulto e confusão, o 1º Regimento de Aviação reagiu intrepidamente, ante a ameaça dos traidores que, inesperadamente, o atacavam, e, numa repulsa formal contra a desordem, com a confiança, a calma e a certeza da vitória, bateu-se heroicamente na defesa da causa da Pátria, até o completo triunfo.
O seu heróico comandante, Tenente-Coronel Eduardo Gomes, ferido logo ao início da áspera luta, mas consciente no seu valor e sereno na sua bravura, soube desassombradamente, e sem esmorecimento, fazer, por uma reação magnífica, de cada um dos seus companheiros um bravo e dar-nos o exemplo máximo de grandeza moral e patriótica e de excepcionais qualidades de soldado.
Tornou-se, assim, o Tenente-Coronel Eduardo Gomes, mais uma vez, credor de minha profunda admiração e de meu grande reconhecimento. Louvo-o com orgulho pela sua ação serena, enérgica e decisiva, pela sua bravura indômita, pelo alto valor de seus excepcionais predicados de caráter e pelos seus sentimentos de patriotismo e de grande amor ao Brasil, que ele acaba de servir com tanta honra, abnegação e lealdade militar.” [1]
A partir de 1937, por não concordar com a política do Estado Novo, pede demissão do comando do Grupo e passa a dedicar-se integralmente às atividades do CAM. Promovido a coronel em 1938, recusou-se a participar de uma insurreição dos integralistas contra o governo. Nesse mesmo ano, assumiu a chefia do recém-criado Serviço de Rotas e Bases Aéreas, ao qual foram subordinados os serviços de meteorogia, radiocomunicação, manutenção dos campos de pouso e o CAM.
Com a criação do Ministério da Aeronáutica em janeiro de 1941, o Serviço de Rotas e Bases Aéreas foi transformado, em outubro, na Diretoria de Rotas Aéreas, ao qual ficou subordinado o Correio Aéreo Nacional – CAN, resultado da fusão dos Correios Aéreos Militar e Naval. Promovido a Brigadeiro em dezembro de 1941, Eduardo Gomes foi nomeado comandante das I e II Zonas Aéreas, acumulando as funções de Diretor de Rotas Aéreas.
Quando da eclosão da IIª Guerra Mundial, apoiou a causa Aliada, sendo favorável à cooperação com os Estados Unidos da América, desde que a soberania nacional não fosse afetada, no tocante à administração das bases militares no Norte e Nordeste do País.
Em 1942, passou a comandar a II Zona Aérea, responsável pelas atividades da FAB no Nordeste e Bahia. Envolveu-se, imediatamente, com a incessante atividade de patrulha anti-submarina na região; e buscou o reequipamento da Força Aérea Brasileira com modernas aeronaves de caça e de patrulha, como os Curtiss P-40, Lockheed Hudson, Lockheed Ventura e Consolidated Catalina.
Em setembro de 1944, foi promovido a major brigadeiro do ar.
Após a guerra, e com o restabelecimento da ordem democrática no País, foi candidato à Presidência da República, em 1945 e novamente em 1950. Em 1946, realizou o curso de Estado-Maior nos E.U.A., reassumindo a Diretoria de Rotas Aéreas quando de seu retorno em outubro. A 3 do mesmo mês, foi promovido a Ten.-Brig.-do-Ar.
Com o suicídio do Pres. Getúlio Vargas em 1954, é convocado pelo seu sucessor, Pres. Café Filho, a desempenhar as funções de Ministro da Aeronáutica, para o qual foi nomeado a 24 de agosto de 1954, tendo permanecido no cargo até 11 de novembro de 1955. Durante sua gestão, pregou pelo reequipamento da FAB, tendo sido adquiridos 12 aviões de transporte Fairchild C-82 “Vagão Voador”.
Ao deixar o Ministério, retornou às atividades do CAN, tendo realizado seu último voo na aeronave C-47 FAB 2015, um pouco antes de alcançar a idade limite para o serviço ativo, a 20 de setembro de 1960; dois dias após, foi promovido a Marechal-do-Ar.
Em meados dos anos 60 – de 9 de janeiro de 1965 a 17 de março de 1967 – foi novamente convidado para exercer o cargo de Ministro da Aeronáutica, tendo se empenhado mais uma vez no reequipamento da FAB, criando as Esquadrilhas de Reconhecimento e Ataque, e adquirindo aeronaves de transporte C-130 Hércules e C-115 Búfalo, e aviões de treinamento a reação Cessna T-37C.
O Marechal do Ar Eduardo Gomes veio a falecer a 13 de junho de 1981. Seu trabalho pioneiro e impulsionador do CAN foi reconhecido nacionalmente a 12 de dezembro de 1982 quando foi proclamado “Patrono do Correio Aéreo Nacional” pelo Congresso Nacional. Em 1991, recebeu o título de “Patrono da Força Aérea Brasileira”.
Seu legado ao Brasil é o de uma vida de dedicação e amor à Pátria, exemplo para toda a sociedade. Seu epitáfio bem poderia ser:
“À Pátria tudo deu; nada pediu, nem mesmo compreensão.”
Bibliografia:
- N.F. Lavenère-Wanderley, “História da Força Aérea Brasileira”, 2ª Ed.
- J.V. de Souza, “Ministros da Aeronáutica – 1941 a 1985”, INCAER, Rio de Janeiro, 1997.