Lockheed A-28A Hudson

A-28A 41-47172 “Britânia nº 1” – aeronave doada à FAB pela “Fraternidade do Fole”(via N.L. Senandes).

O Lockheed A-28A Hudson era uma aeronave de bombardeio leve, desenvolvida para a Royal Air Force (RAF) a partir do Lockheed 14 Super Electra. Este, por sua vez, era uma variante do Lockheed 10 Electra, com capacidade para transportar 14 passageiros em uma fuselagem de maior altura, projetada a partir de 1935 para competir com os Douglas DC-3.

No dia 29 de julho de 1937, o primeiro protótipo do Modelo 14 levantou vôo, pilotado por Marshall Headle, piloto de provas da companhia. O Super Electra caracterizava-se por apresentar flapes do tipo Fowler, os quais aumentam a sustentação a baixas velocidades, asas com tanques de combustível integrais e hélices embandeiráveis, além dos estabilizadores verticais de dimensões ainda maiores do que os instalados nos Lockheed 10 e Lockheed 12 Electra Junior.

Uma falha no projeto levou à queda de um dos Super Electra da Northwest Airlines no dia 10 de janeiro de 1938; vibração excessiva nos estabilizadores verticais levara à falha estrutural dos estabilizadores horizontais. Essa falha foi corrigida com a introdução de estabilizadores horizontais e verticais balanceados.

O Super Electra não foi um sucesso comercial, com apenas 111 exemplares produzidos; no entanto, suas versões militares alcançaram a expressiva marca de 2.940 unidades em suas mais diferentes versões.

Em 1938, uma missão britânica de compra de material bélico encontrava-se nos Estados Unidos, a fim de adquirir novas aeronaves, dentre outros equipamentos, para reequipar as forças britânicas, já que a guerra na Europa era considerada uma possibilidade. Em abril daquele ano, a Lockheed apresentou àquela comissão um modelo em escala natural do B14, desenvolvido a partir do Modelo 14. O B14 era equipado com torretas no nariz e no dorso (com uma metralhadora em cada); um compartimento para bombas na fuselagem; e uma metralhadora no ventre, manejada pelo navegador, o qual ocuparia um assento atrás do bordo de fuga da asa. O grupo motopropulsor era composto por dois motores radiais Wright Cyclone GR-1820-F62 de 900HP cada.

Como proposto, o B14 não atendia aos requisitos de uma aeronave de reconhecimento de uso geral da RAF (“general reconnaissance” (GR), aeronaves de esclarecimento marítimo). Foram solicitadas modificações pela comissão, a saber: remoção da torreta no nariz, substituída por um nariz envidraçado, ocupado pelo navegador, o qual teria também a função de investigar alvos na superfície do mar; instalação de uma torreta dorsal Boulton Paul, de fabricação britânica, equipada com duas metralhadoras Browning de .303in; instalação de duas metralhadoras, de mesmo calibre, na parte superior do nariz, fixas e controladas pelo piloto; e utilização dos motores Wright Cyclone GR-1820-G102A de 1.100HP cada.

Com essas modificações, o B14 foi aceito pela RAF. Batizado de Hudson, o primeiro protótipo da versão Mark I, com matrícula britânica N7205, voou no dia 10 de dezembro de 1938 e o primeiro exemplar (N7206) foi entregue à RAF no dia 15 de fevereiro de 1939. Os Hudson I entraram em serviço na RAF no verão de 1939, equipando o Esquadrão 224, sob o controle do Comando Costeiro da RAF.

O Hudson I tem a distinção de ser a primeira aeronave da RAF a abater uma aeronave alemã – um aerobote Dornier 18 – na IIª Guerra Mundial, no dia 8 de outubro de 1939, em missão de patrulha no Mar do Norte.

O B14 recebeu posteriormente a designação de Modelo 214 pela Lockheed. Uma variante dos Hudson I foi adquirida para a Royal Australian Air Force (RAAF), equipada com motores Pratt&Whitney Twin Wasp SC3-G de 1.050HP cada; essa versão foi posteriormente designada Hudson IV.

As próximas versões construídas foram baseadas no Modelo 414, desenvolvido em 1939 para a RAF e incorporando uma fuselagem reforçada estruturalmente e hélices de velocidade constante. O Hudson II incorporava essas modificações; o Hudson III tinha motores Wright Cyclone GR-1820-G205A de 1.200HP e equipou também as Royal Canadian Air Force (RCAF) e Royal New Zealand Air Force (RNZAF). O Hudson V apresentava um melhor armamento defensivo, com metralhadoras ventrais e laterais, e era equipado com motores Pratt&Whitney Twin Wasp S3C-4G de 1.200HP.

A partir de 1940, as aeronaves destinadas às forças aéreas britânicas foram fornecidas através de contratos assinados sob a Lei do Empréstimo e Arrendamento (“Lend-Lease”). Os modelos 414, equipados com motores Pratt&Whitney Twin Wasp, foram designados pelo US Army Air Corps como A-28 e A-28A; aqueles equipados com motores Wright Cyclone receberam as designações A-29 e A-29A.

Os A-29 também foram entregues à US Navy (onde recebeu a designação PBO-1), à Força Aérea Chinesa e às US Army Air Forces (USAAF). Essa última encomendou, em 1942, trezentos exemplares de uma variante de treinamento, designada AT-18. O último exemplar do Hudson foi produzido em 1943 e entregue à USAAF.

OPERADORES MILITARES DO LOCKHEED HUDSON

Os seguintes países utilizaram o Hudson, em suas diferentes versões, para fins militares: África do Sul, Alemanha Nazista, Austrália, Birmânia, Brasil, Canadá, China, EUA, França Livre, Holanda, Irlanda, Israel, Portugal, Reino Unido e Nova Zelândia.

A Luftwaffe capturou um Hudson na França, entre agosto e dezembro de 1941 e, após testá-lo no centro de testes de Rechlin, utilizou-o como aeronave de comunicação, com o código 6+6, pelo menos até 1942.

A Força Aérea Real da Romênia utilizou 5 Lockheed 14, tomados da empresa aérea romena LARES, a partir de de junho de 1941.

O HUDSON NA FORÇA AÉREA BRASILEIRA

A intensificação das operações de ataque por parte de submarinos alemães e italianos na costa brasileira, por volta de 1941, levou o governo brasileiro a montar patrulhas marítimas – ainda que com aeronaves totalmente inadequadas para tais missões – ao mesmo tempo em que procurava reequipar a recém-criada Força Aérea Brasileira com modernas aeronaves de combate, de fabricação norte-americana. Após receberem os primeiros bombardeiros North-American B-25B Mitchell e realizarem a conversão operacional no tipo, tripulações brasileiras passaram a efetuar missões de patrulha anti-submarino. No dia 22 de maio de 1942, antes mesmo de o Brasil entrar em guerra, ocorreu o primeiro ataque de uma aeronave da FAB a um submarino alemão, o qual, ao localizar a aeronave brasileira, abriu fogo com sua artilharia anti-aérea. Os ataques de submarinos passaram então a aumentar em número até que, em 22 de agosto de 1942, o governo brasileiro declarou guerra à Alemanha e Itália.

Deve-se relembrar a figura do Brig. Eduardo Gomes, então comandante das 1ª e 2ª Zonas Aéreas (cobrindo as regiões Norte e Nordeste do Brasil), pois seu empenho em obter modernos aviões para a FAB foi decisivo para o reequipamento da mesma. Em dezembro de 1942, os primeiros dez A-28A Hudson chegaram, com outros 16 sendo recebidos no mês seguinte; em março de 1943 chegou o último Hudson a ser recebido pela FAB. Estes aviões, desviados para a FAB a partir de um lote originalmente destinado à RAF, foram inicialmente baseados em Natal, Recife e Salvador; posteriormente, alguns foram deslocados para o Rio de Janeiro e Canoas.

Os Hudson da FAB desempenharam inúmeras missões de patrulha marítima e proteção a comboios. Durante essas missões, ocorreram os seguintes ataques confirmados a submarinos inimigos:

  • 5 de abril de 1943: um A-28A Hudson, de Salvador, pilotado pelo 1º Ten.-Av. Ivo Gastaldoni – ataque com cargas de profundidade a submarino localizado a sessenta quilômetros de Aracaju, observados debris e larga mancha de óleo no mar após o ataque.
  • 3 de julho: A-28A Hudson, de Santa Cruz, pilotado pelo Ten.-Av. Clóvis Labre de Lemos – ataque ao U-199, sem danos.
  • 31 de julho: Às primeiras horas da manhã de 31 de julho de 1943, um Martin PBM-3C Mariner do esquadrão VP-74 (USN), baseado no Rio de Janeiro, localizou e atacou o submarino alemão tipo IXD-2 U-199. O U-199 foi danificado mas não afundou, e permaneceu atirando com suas peças de artilharia antiaérea no PBM-3C. As defesas brasileiras já então haviam sido alertadas e um Hudson da FAB imediatamente levantou vôo do Rio de Janeiro, pilotado pelo Asp.-Av. Sergio Cândido Schnoor. Ele atacou o U-199 com duas cargas de profundidade Mk. 17 as quais caíram perto do submarino; efetuando um segundo ataque, o Asp.-Av. Schnoor metralhou o U-199 com as metralhadoras localizadas no nariz do Hudson, o que incapacitou alguns dos marinheiros alemães que manejavam a artilharia antiaérea do submarino. O Hudson deixou então a área e o U-199 acabou sendo atacado e afundado por um PBY-5 da FAB, pilotado pelo Asp.-Av. Alberto Martins Torres, o qual estava em patrulha próximo ao local.

Durante a IIª Guerra Mundial, um total de cinco Hudson foram perdidos em acidentes. Dos restantes, a maioria foi sendo progressivamente desativada até meados da década de 1950. Três deles, no entanto, foram convertidos para cargueiros, com a remoção do armamento, e redesignados como C-28.

LOCKHEED HUDSON A-28A NA FAB – FROTA COMPLETA
Ordem Matrícula c/n Ex-USAAC Ex-FAB Observação
01 FAB 6028 414-7020 42-47100 FAB-01 Ex-FK544 RAF (MNU); Entregue FAB 08/11/42;
Descarregado 1947
02 FAB 6029 414-7021 42-47101 FAB-02 Ex-FK545 RAF (MNU); Entregue FAB 08/11/42;
Acid. Aracajú/SE 20/05/43; Descarregado 1945
03 FAB 6030 414-7030 42-47110 FAB-03 Ex-FK554 RAF (MNU); Entregue FAB 11/11/42;
Descarregado 1946
04 FAB 6031 414-7031 42-47111 FAB-04 Ex-FK555 RAF (MNU); Entregue FAB 12/11/42;
Acid. Camocin/CE 15/09/45; Descarregado 23/08/46
05 FAB 6032 414-7032 42-47112 FAB-05 Ex-FK556 RAF (MNU); Entregue FAB 14/11/42;
Acid. BAGL entregue à EEAR – Descarregado
09/06/43
414-7033 42-47113 Ex-FK557 RAF (MNU); Entregue FAB
11/11/42
06 FAB 6033 414-7120 42-47200 FAB-06 Ex-FK644 RAF (MNU); Descarregado 26/06/52 –
NRR
07 FAB 6034 414-7121 42-47201 FAB-07 Ex-FK645 RAF (MNU); Descarregado 12/03/51 –
NRR
08 FAB 6035 414-7122 42-47202 FAB-08 Ex-FK646 RAF (MNU); Acidentado Recife/PE;
Descarregado 09/09/44
09 FAB 6036 414-7123 42-47203 FAB-09 Ex-FK647 RAF (MNU); Acidentado Recife/PE
05/11/48; Descarregado 02/06/49
10 FAB 6037 414-7124 42-47204 FAB-10 Ex-FK648 RAF (MNU); Acidentado Salvador/BA
30/11/43; Descarregado 30/12/43
11 FAB 6038 414-7125 42-47205 FAB-11 Ex-FK649 RAF (MNU); Descarregado 12/03/51 –
NRR
12 FAB 6039 414-7126 42-47206 FAB-12 Ex-FK650 RAF (MNU); Descarregado 1948
13 FAB 6040 414-7127 42-47207 FAB-13 Ex-FK651 RAF (MNU); Descarregado 1948
14 FAB 6041 414-7128 42-47208 FAB-14 Ex-FK652 RAF (MNU); Descarregado 12/03/51 –
NRR
15 FAB 6042 414-7129 42-47209 FAB-15 Ex-FK653 RAF (MNU); Convertido em C-28
2900
16 FAB 6043 414-7130 42-47210 FAB-16 Ex-FK654 RAF (MNU); Acidentado Salvador/BA
27/06/43; Descarregado 1945
17 FAB 6044 414-7131 42-47211 FAB-17 Ex-FK655 RAF (MNU); Acidentado Serra
Branca/PB 03/10/50; Descarregado 13/11/50
18 FAB 6045 414-7170 42-47250 FAB-18 Ex-FK694 RAF (MNU); Descarregado 26/06/52 –
NRR
19 FAB 6046 414-7171 42-47251 FAB-19 Ex-FK695 RAF (MNU); Acidentado Costa Rica;
Descarregado 22/11/56
20 FAB 6047 414-7172 42-47252 FAB-20 Ex-FK696 RAF (MNU); Acidentado Rio de
Janeiro 17/03/44; Descarregado 29/05/44
21 FAB 6048 414-7173 42-47253 FAB-21 Ex-FK697 RAF (MNU); Acidentado Rio de
Janeiro 20/07/49; Descarregado 03/11/49
22 FAB 6049 414-7174 42-47254 FAB-22 Ex-FK698 RAF (MNU); Descarregado 12/03/51 –
NRR
23 FAB 6050 414-7175 42-47255 FAB-23 Ex-FK699 RAF (MNU); Acidentado Recife/PE
19/02/52; Descarregado 11/07/52
24 FAB 6051 414-7176 42-47256 FAB-24 Ex-FK700 RAF (MNU); Convertido em C-28
2901
25 FAB 6052 414-7177 42-47257 FAB-25 Ex-FK701 RAF (MNU); Acidentado Fortaleza/CE
13/01/50; Descarregado 27/03/50
26 FAB 6053 414-7178 42-47258 FAB-26 Ex-FK702 RAF (MNU); Convertido em C-28
2902
27 FAB 6054 414-7179 42-47259 FAB-27 Ex-FK703 RAF (MNU); Descarregado 07/02/52 –
NRR
28 FAB 6055 414-7182 42-47262 FAB-28 Descarregado
1947
FONTE: Arquivo A. Camazano A. – Lockheed Twins, P.J.
Marson (Air-Britain, 2001)
NRR = Não Recomendável a sua
Recuperação
MNU = Matrícula Não Utilizada

CARACTERÍSTICAS TÉCNICAS (LOCKHEED A-28A HUDSON)

  • Motor: 2 motores radiais de 14 cilindros, em dupla estrela, Pratt&Whitney R-1830-67 de 1.200 HP
  • Envergadura: 19,96 m
  • Comprimento: 13,51 m
  • Altura: 3,61 m
  • Superfície alar: 51,19 m2
  • Peso: 5.985 kg (vazio); 10.142 kg (máximo)
  • Velocidade: 397 km/h (máxima, a 4.570m)
  • Razão de ascensão: 658 m/min
  • Teto de serviço: 8.230 m
  • Alcance: 3.475 km
  • Armamento: 2 metralhadoras Browning M2 .50 pol fixas no nariz; 1 metralhadora Browning M2 .50 pol dorsal, móvel; 1 metralhadora Browning M2 .30 pol ventral, móvel; até 750 lb em bombas e/ou cargas de profundidade, carregadas internamente.

Perfis

A-28A c/n 414-7172; aeronave adquirida com fundos da “Fraternidade do Fole” e doado à FAB, batizada com o nome “Britania Nº 1”.
A-28A c/n 414-7173; aeronave pilotada pelo 1º Ten.-Av. Schnoor quando do ataque ao submarino alemão U-199 em 31/07/1943.
A-28A FAB 14.
A-28A 6048.
A-28A 6044.
C-28 2900.

Bibliografia:

  1. P.J. Marson, “The Lockheed Twins”, Air-Britain, Grã-Bretanha, 2001.
  2. F.C. Pereira Netto, “Aviação Militar Brasileira 1916-1984”, Editora Revista de Aeronáutica, Rio de Janeiro, 1984.
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